quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Volta às aulas, percepções
Percepções
As crianças e demais pessoas envolvidas, refletem a postura, olhar, a ação do mediador que está com elas.
O exemplo disso, são os feedbacks que as próprias crianças nos fornecem no dia a dia, inclusive pontuando nossas falhas ou nos chamando atenção para o que não tínhamos observado, basta apenas escutá-los...
Cabe ao profissional , sustentar um novo olhar, que reconheça as crianças como sujeitos, especialmente as com deficiências, deslocando-as do lugar onde o discurso médico e parental as situou.
Algumas observações:
Na minha experiência, muitas crianças com deficiência numa sala, realmente dificultou o desenvolvimento trabalho com maior qualidade, devido a sobrecarga de diversidades nas demandas.
Talvez com um número menor , o trabalho poderia ter sido desenvolvido de forma diferenciada, pois materiais para estimulação específicos, se não forem adquiridos, necessitam de tempo significativo para serem elaborados.
Continuo questionando a inclusão em período integral, para algumas crianças que necessitam de apoio Pervasivo ou Extensivo em várias áreas.
Penso que não existe nenhum trabalho técnico , profissional ou individual, que substitua a riqueza da convivência entre todas as crianças.
Mas considero muito importante que exista um programa paralelo que possa favorecer crianças com necessidades muito específicas ou que apresentem muita dificuldade nos relacionamentos interpessoais.
Precisamos descartar um certo narcisismo profissional que ao invés de promover a inclusão, poderá estar mais próximo de um ato de agressão. (Stella Pãez - Efecto Bumerang/ pág. 32)
Percebi, na minha experiência, que em vários momentos, algumas crianças , com necessidades de apoio Pervasivos, pareciam estar muito bem no grupo, especialmente durante a recreação, atividades com músicas, artes, sala de estimulação, ocasionalmente durante o horário de refeições.
Em outros momentos como por exemplo os que exigem um desempenho intelectual mais significativo, observo que estão completamente excluídas ou mesmo desconectadas com o meio.
E se “ não podem interagir, compartilhar, aprender e competir lealmente com seus pares, crescerão com a auto - imagem de ser sempre o último, o que não pode, o perdedor...evitemos assim que os pequenos com deficiências mais fortemente afetados, se deparem cotidianamente com situações que não podem resolver” ( Educação Inclusiva do Projeto Estadual de Mudança de Sistemas para a Educação Inclusiva da Louisiana.95)
Se por um lado, observo um “furor reabilitador”, agora voltado para a inclusão. ”A aparição da impossibilidade de renúncia, em nosso meio de trabalho. As exigências de perfeccionismo que incrementam as dos pais. Assinalamos que o risco de desconhecer e não se encarregar dessas verdades, entre as quais transita nossa ação , equivale a condenar - se a uma mecânica amestradora.” (Alfredo Jerusalinsky .1988 pág. 195)
Por outro , observo muitas escolas e profissionais da área de saúde mental e Cia, congelados frente a possibilidade da simples reflexão sobre o assunto, sendo que é um direito não questionável. Com o discurso sempre impecável repleto de “mas”, que sustente a co-dependência real que existe nessa área, quando na realidade , não estão preocupados com as crianças, mas temem perder a função, seu emprego, sua identidade profissional ,rever posturas e paradigmas internos...
Isso é difícil? realmente é... é um processo que exige mudanças profundas, grandes transformações...
Pelo menos hoje, já temos os dois lados, a questão é encontrar o equilíbrio entre eles...
Ainda bem , que algumas escolas já conseguem perceber a possibilidade que a inclusão oferece de ampliar o campo de atuação...
Alguns professores,
tanto os de classes comuns, como os das " especiais" percebem que estarão crescendo e se desenvolvendo com essa nova proposta. O professor da sala especial será o consultor de todas as outras salas, seu campo de trabalho irá ampliar!
Teremos apenas especialistas em relacionamentos humanos, em pessoas.
O mesmo ocorre em empresas, com a contratação , de pessoas com deficiência em seu quadro de funcionários. Todos ganham com isso!
A realidade no futuro é um comprometimento da sociedade civil - Empresas Socialmente Responsáveis"( revista Exame/98) Empresas admitindo pessoas com deficiência pelo seu valor e produtividade, não por causa de leis.. que podem gerar mais exclusão nos ambientes...
Consumidores mais exigentes, escolhendo empresas, que tem efetivamente ações, no dia a dia de cidadania corporativa e crescimento social de nosso país.
A partir daí, outros caminhos poderão ser possíveis, tanto em relação aos pais, escolas, como os futuros reflexos na comunidade.
Vale um Alerta !
O que me preocupa muito nesse percurso , são algumas frases como “ para com os estudantes com distúrbios de comportamento o professor deverá -> Aplicar técnicas de modificação de comportamento, ignorar comportamentos inadequados, focalizar os pontos bons e elogiá-los...” que apesar de ser uma tentativa na busca de soluções para os conflitos dos profissionais perante a inclusão, pode desconsiderar o próprio sujeito, pois já não se acha presente a partir delas. Não existe regras, pois cada sujeito é único, singular...
O perigo existe pois são “...técnicas que constituem verdadeiras resistências serviço da evitação do contato do profissional com o real disforme, lento... ou imóvel de sua prática...
Ou não se suscita em nós, como nos pais, a fronteira com o sub-humano? Também se mobilizam essas imagens em nós... Não estamos isentos do desgosto e da angustia, na aproximação com as crianças. Por isso desconfiamos do altruísmo... ”(Alfredo Jerusalinsky .1988 pág. 195)
Os sentimentos precisam ser conversados, os pontos fortes aprimorados e os fracos observados e revertidos como desafios, oportunidades de melhoria.
Os relacionamentos necessitam ser trabalhados e não ignorados, pois como pode uma pessoa aprimorar sua capacidade de se relacionar com o outro, se não tiver feedbacks do meio?
Por isso, eu pergunto:
ESTAMOS REALMENTE ESCUTANDO AS CRIANÇAS ?
Por isso o trabalho profissional, precisa estar à serviço para que a convivência entre as crianças, seja um processo produtivo, positivo e saudável para todos .
**********mariamaura**********
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