sábado, 1 de novembro de 2008

Homossexualidade e sexualidade na Bíblia


O desafio de qualquer tratado exegético no campo da sexualidade ou da homossexualidade é sua capacidade de alcance e compreensão dos fatores culturais, éticos e religioso que formam a cultura de um povo। Tentar aprofundar uma reflexão neste campo significa poder penetrar todas as esferas de um conjunto de crenças, costumes, leis e tradições, dentro das quais são traçados os perfis de um “modus vivendi”। É preciso reconhecer que aqui se constitui a dificuldade maior. Sempre que alguém volta para o passado, os arquétipos atuais e sua visão da história cultural podem condicionar sua pesquisa e volta ao passado. Nosso estudo visa oferecer uma reflexão sobre as questões da sexualidade e homossexualidade, como contributo para uma visão desta temática na Bíblia.

A homossexualidade é conhecida na linguagem antiga como uranismo[1] = inversão genital। Na tradição mitológica antiga eram conhecidos dois tipos de “uranismo”: a) a inversão artificial, que significava apenas um vício da relação homossexual; b) a inversão-perversão, considerada uma degeneração mental। Dentro destes dois campos, há inclinações para o homossexualismo com rejeição ao sexo oposto e há outra forma de homossexualismo que é a indiferença ao sexo oposto. Para estes, a vida sexual normal produz um cansaço, repulsa e até impotência. A partir desta situação, instala-se um comportamento genital anômalo. O amor uranista (invertido) é uma caminhada normal, na esfera psíquica, uma vez que ele possui todas as fantasias, caprichos, bem como paixão e violência. Na prática, no entanto, se efemina nos homens e se masculiniza nas mulheres. Estudos revelam que a vida sexual pervertida dura enquanto subsistir a força genital.

As origens do homossexualismo permanecem desconhecidas, mas a mitologia antiga já conhecia esta forma de comportamento। Platão definia três formas de ser humano: a) o homem; b) a mulher; c) o heterógino। Na composição do ser humano, ainda dentro da mitologia helenista, os seres tinham duas faces, quatro mãos, quatro pés, dois sexos, cada qual na posição inversa (era um duplex). O ser cujos dois sexos fossem masculinos era homem; os dois sexos femininos era mulher e havia uma terceira opção, que tinha um sexo masculino e outro feminino (heterógino). Assim fazia-se a explicitação da homossexualidade dentro da cultura grega. Uma briga de Zeus com os humanos provocou o castigo dos mais fracos. Zeus tomou os humanos e os partiu pela metade, misturando suas partes. Daquele momento em diante, cada parte busca sua outra metade no desejo de reconstruir a felicidade original[2]. Os que tinham os dois sexos masculinos, .procuram outro homem como sua metade original; os que tinham os dois sexos femininos, buscam uma mulher e os que tinham dois sexos diferentes, procuram o sexo oposto para realizar seu complemento.




O homossexualismo é conhecido igualmente nas culturas romana e judaica। No código de ética judaica, o comportamento homossexual era considerado um desvio de conduta gravíssimo, sofrendo penalidade capital: “Se um homem se deitar com outro homem como se fosse com uma mulher, ambos cometem uma perversidade e serão punidos com a morte – são réus de morte” (Lv 20,13)। Na cultura romana, o apóstolo Paulo faz referência a este estado ético que, para seus esquemas mentais, era uma afronta ao estado natural: “Por isso, Deus os entregou às paixões aviltantes: suas mulheres mudaram as relações naturais por relações contra a natureza; do mesmo modo os homens, deixando a relação natural com a mulher, arderam em desejo uns para com os outros, praticando torpezas homens com homens e recebendo neles mesmos o preço da sua aberração” (Rm 1,26-27)। Desta forma, nota-se a antigüidade do homossexualismo. A cultura grega cria mitos para explicar esta forma de comportamento. A cultura romana cria leis jurídicas para coibir a incidência destes casos e o judaísmo estrutura um código de ética que insere a pena máxima. No entanto, a homossexualidade, independentemente de aceita ou condenada, constitui-se, ainda hoje, um fenômeno obscuro, uma trilha sinuosa e sem saída.

A educação familiar é o elemento primário na formação de uma sociedade। É na esfera familiar que se encontram os resquícios de uma moral doméstica। Esta configura uma compreensão da pessoa, homem ou mulher, no seu comportamento social. A paidéia (educação) grega procurava integrar os indivíduos numa forma comum de compreensão e visão de família, sociedade e mundo. Numa afirmação de Diógenes, a educação é graça para o jovem, consolo para o ancião, abundância para o pobre e ornamento para o rico (Diógenes, Laertius, vi, 68)[3]. Para muitos mestres antigos era preferível ser cego do que não ser educado ou poder freqüentar uma academia. Na dimensão helenística do pensamento, a educação conduz à virtude, e esta torna-se uma arma que jamais pode ser abandonada ou perdida (Diógenes, Laertius, vi,12-13)[4].

As sociedades antigas, especialmente as ocidentais, pregavam uma moral familiar monogâmica। No entanto, quer na Grécia antiga e mesmo na tradição judaica, eram conhecidos os costumes de um homem ter uma mulher oficial e muitas concubinas, as quais moravam sob o mesmo teto e tinham os mesmos direitos que a mulher oficial। Os filhos desta conviviam com os filhos das concubinas sem diferenças, com a única restrição de que, salvo exceções, os filhos das concubinas não herdavam bens diretos[5]. O adultério pesava sempre sobre a mulher, uma vez que para o homem esta prática era um certo direito.

A administração doméstica

A teoria da oikou nomia (lei da casa) foi educando a mulher para uma esfera interna do lar, ainda que, como escrava, ela tivesse que cultivar os campos e tomar conta dos rebanhos (cf। Ct 1,5-6)। “Tanto quanto possível, as moças eram separadas dos rapazes e cultivadas em suas casas na absoluta ignorância de tudo o que se passava no mundo”[6]। A mulher nas culturas antigas era educada a não se inteirar dos assuntos do marido, nem mesmo das relações comuns entre as famílias. “Quando a família recebia um convite para visitar outra, os homens e as crianças podiam ir, mas, salvo exceções, as mulheres ficavam em casa. E quando os homens tinham uma mulher como convidada, em sua casa, a esposa não podia participar da companhia”[7].

A educação religiosa na família

A moral doméstica determina, aos poucos, a moral religiosa। Diante de situações concretas e existenciais nascem imperativos morais que se transformam em padrões de comportamento religioso। Muitas vezes, dentro de uma conflitividade pessoal ou comunitária acontece o surgimento de uma apocalíptica religiosa, uma certa luta entre as forças divina e humana, entre a fé em Deus e os temores de Satã। Nestes tumultos existenciais, muitas vezes, elaboram-se as teses principais da Transcendência, de Deus e do ser humano[10]। Na esfera religiosa, a tradição veterotestamentária encontra a reforma de Esdras (Esd 9-10), que institui a lei da raça pura e os direitos de divórcio pelos mesmos motivos. Abre-se, a partir do séc. IV aC, uma ruptura ainda maior na sociedade judaica quanto à segregação dos sexos e ao tratamento da mulher. Aos poucos, esta forma de procedimento passa a tomar o caráter de cultura, sendo introjetado na educação religiosa familiar e comunitária. 3. A educação social – a sexualidade da mulher a serviço do Estado: Na esfera social, a sexualidade está muito vinculada ao casamento, às relações familiares referentes à pratica do casamento e à finalidade última das relações sexuais. No mundo helenístico são encontrados diferentes conceitos, de acordo com as escolas de pensamento e também de acordo com os períodos históricos. Uma teoria pregava o casamento para os “maduros”, descartando os outros: “Para o jovem, ainda não; para o velho, não mais”. Na esfera social, a mulher estava a serviço do Estado, enquanto ela emprestava seu corpo para gerar filhos para a guerra, para a defesa do rei e para a guarda dos palácios dos nobres (Cf 1Sm 8,11ss)[11]. O casamento, na teoria platônica, tinha como finalidade principal gerar filhos para o Estado. A finalidade do matrimônio era apenas homologar a legitimidade dos filhos na relação sexual. Os filhos das concubinas e as próprias concubinas participavam em tudo da vida familiar, mas não tinham os mesmos direitos que as mulheres oficiais e os filhos das mesmas[12]. Na esfera social, a mulher recebia um espaço que não era espaço. Ela tinha uma área de comando (os cuidados da casa e dos filhos) que não era poder. Ela, dentro de casa ou fora dela, dependia sempre do seu esposo. Por isso, a estrutura social criava uma separação e segregação dos sexos, que não era outra coisa senão submissão[13].

A sexualidade a serviço de इन्तेरेस्सेस

Todas as culturas antigas incentivavam o casamento e condenam, paralelamente, o celibato e a esterilidade. O casamento servia para evitar aquilo que nenhuma aceitava: o lesbianismo e o homossexualismo, ainda que presentes em todas elas. O celibato masculino e mais ainda o feminino era mal visto, em virtude destes perigos. Para evitar que jovens indecisos retardassem sua opção pelo casamento, os gregos criavam as gymnopedias (danças nuas). Essas danças provocavam os jovens a assumirem o matrimônio na fase central de sua juventude. Pesavam sobre esses interesses os temores dos desvios da सेक्सुँलिदादे

Sexualidade = manipulação e frustração

Em sociedades onde a formação dos jovens está nas mãos de interesses, a sexualidade sofre perturbações e desvios। O livro dos Ct é o melhor exemplo bíblico das manipulações da sexualidade determinadas pelos interesses familiares ou políticos। De um lado temos a ganância dos irmãos, os quais não se perguntam se a irmãzinha vai ser feliz ou não, mas se perguntam pela quantia que podem ganhar. Do outro está o rei – ou os ricos – que, com seus direitos de semideus, pode pedir qualquer moça para seu harém no palácio[18]. Qualquer moça que esteja num átrio de concubinas será sempre uma concubina. O amor pode vir misturado com o vinho, licores e perfumes, mas a cama na qual ele se complementa no ato sexual, será sempre a expressão da exploração, será sempre uma cama fria[19]. O beijo, manifestação sensível do amor, expressão do desejo da paixão[20], não será manifestação de alguém que ama, mas de alguém que explora. Se os perfumes, fragrâncias e vinhos criam um ambiente de deleite, sensualidade e ternura (Ct 1,3; Ez 16,8; 23,17; Pr 7,18), a frieza do amor pode produzir o desconforto, o tédio e a frieza sexual.

O confinamento dos sentimentos e o homossexualismo

A felicidade não pode ser comprada ou vendida। A antropologia do amor perpassa todas as esferas e estruturas do ser humano। É preciso deixar que o amor, a afetividade e a sexualidade acordem no seu tempo correto (Ct 8,4)। Despertar a sexualidade de modo interesseiro, usá-la para ter proveito econômico ou por interesse provoca distúrbios comportamentais na vida.

Conclusões:

A questão da homossexualidade está ligada a um conjunto de fatores que envolvem o problema da afetividade e sexualidade। A homossexualidade é uma realidade presente em todos os tempos e culturas। Ela resulta de algum fenômeno biológico, mas se transforma numa fonte de ciúmes. A moral judaica condena a homossexualidade (Lv 18,22), como condena a esterilidade, o onanismo e o celibato por não gerarem filhos e não prolongarem a descendência (Gn 15,15; 16,1; 1Sm 1,3-7; Sl 127,3). Toda a relação sexual deve ter como meta procriar. O ato sexual não pode ser compreendido como prazer carnal, mas como ato gerador de vida. A sexualidade é um fator integrador da personalidade e das expressões da pessoa na sua relação com a sociedade. Em qualquer aspecto que ela se desintegre, ela compromete o convívio comunitário e social.








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