A CABRA E O PASTOR
Um pastor chamava as cabras para o estábulo. Como uma delas parou para devorar um arbusto saboroso, o pastor lhe jogou uma pedra. Foi tão certeiro que lhe quebrou um chifre. Ele pediu à cabra que não dissesse nada a seu dono. Mas a cabra retrucou: - Mesmo que eu fique calada, como esconder a verdade? Quem nao veria meu chifre quebrado? Não há desculpas diante das evidências.
(Autor: Esopo)
O ROUXINOL E A ANDORINHA
Segue meu conselho, imita-me - dizia a andorinha ao rouxinol -; vem viver com os homens em suas casas. O rouxinol lhe respondia: - Prefiro morar nos lugares desertos a fim de não me lembrar de minhas antigas desgraças. Quando conhecemos a infelicidade, procuramos evitar sobretudo o lugar onde fomos por ela tocados.
Autor: Esopo)
O HOMEM QUE PROMETIA O IMPOSSÍVEL
Um homem jazia, doente e perto da morte. Era pobre. Como os médicos lhe tinham tirado qualquer esperança de cura, ele prometeu aos deuses o sacrifício de cem bois e lhes dedicar um monumento se se restabelesse. Sua mulher, que estava a seu lado, perguntou-lhe: - E de onde tirarás o dinheiro? Ele respondeu: - Você acha que vou me restabelecer para os deuses me cobrarem essas promessas? É fácil fazer promessas quando sabemos que não vamos cumpri-las.
(Autor: Esopo)
O CAMELO E ZEUS
Invejoso do touro que se vangloriava de seus chifres, o camelo quis ter também os seus. Foi pedi-los a Zeus., Mas o deus se indignou: -Teu tamanho e tua força já bastam, para que queres ainda mais vantagens? E, em vez de dar-lhe chifres, encurtou-lhe as orelhas. Quem inveja os bens de outrem não percebe que perdeu os próprios.
(Autor: Esopo)
O LEÃO E O JAVALI
Era verão e os animais estavam sedentos. Um leão e um javali foram matar a sede numa pequena fonte. Estavam brigando para ver quem ia beber primeiro. A briga terminou numa luta sangrenta. De repente, tendo-se separado momentaneamente para recuperar o ar, viram os abutres que só estavam esperando que um deles morresse para devorá-lo. Pararam então de brigar. - Melhor ficarmos amigos que servir de pasto aos abutres e aos corvos. Querelas e disputas nos expõem ao perigo. Melhor acabar com elas.
(Autor: Esopo)
O LOBO E O CAVALO
Ao atravessar um campo, um lobo encontrou cevada. Mas, como não tinha o hábito de comê-la, foi embora. Um pouco mais adiante, encontrando um cavalo, disse-lhe: - Venha aqui, encontrei cevada; não a comi, guardei-a para ti só para ter o prazer de ouvir o ruído de tua mastigação. O cavalo respondeu: - Meu caro, se os lobos comessem cevada, quando irias trocar o prazer de encher tua pança pelo de ouvir o ruído de meus dentes? Não dá para crer na súbita bondade do homem mau.
(Autor: Esopo)
O PASTOR E O LEÃO
Um pastor que apascentava seus animais perdeu um bezerro. Como já andara todo o campo em vão, fez uma promessa a Zeus: sacrificar-lhe um cabrito se descobrisse quem era o ladrão. Nesse ínterim, ele viu, à beira de uma floresta, um leão devorando o bezerro. Tomado pelo medo, levantou os braços para o céu e exclamou: "Ó Zeus soberano, há pouco fiz uma promessa para te oferecer um cabrito se eu encontrasse o ladrão; agora imolarei um touro se eu escapar das garras dele". Assim agem os que, na dificuldade, procuram uma saída que, depois de encontrada, só pensam em se safar. (Autor: Esopo)
O PASSARINHO E O MORCEGO
Quando caía a noite, um passarinho que tinha sido posto numa gaiola começava a cantar. Um morcego ouviu sua voz. Foi perguntar-lhe por que de dia ele descansava e à noite cantava. O passarinho respondeu: - Tenho minhas razões. Foi cantando de dia que terminei preso; desde então, aprendi a ser sensato. O morcego lhe disse: - A prudência agora não adianta de nada: por que não a usaste antes de te prenderem!
(Autor: Esopo)
O CÃO E A CONCHA
Um cão que tinha o hábito de comer ovos viu uma concha. Abriu a boca e, não sem esforço, a engoliu. Sentindo então a barriga pesada e doendo, disse: "Isto me ensinou a não achar que tudo o que é redondo é ovo". Reflita antes de agir a fim de não se ferir com estranhos espinhos. (Autor: Esopo)
O MÉDICO INEXPERIENTE
Um médico sem muita experiência acompanhava um doente. Diferentemente de seus colegas que prognosticavam um final feliz, embora distante, para a doença, ele disse a seu paciente para tomar as providências, deixando-o com essas palavras: "Não passarás de amanhã." Algum tempo depois, o doente melhorou e foi à rua. Estava pálido e caminhava com dificuldade. O médico o encontrou e perguntou-lhe: - Bom dia, como vão os que estão debaixo da terra? O doente respondeu: - Estão bem, pois beberam a água de Letes¹. Mas, há pouco, a Morte e Hades faziam terríveis ameaças contra os médicos porque eles não deixam os doentes morrer. Fizeram uma lista com o nome deles. Queriam incluir o seu nome mas me lancei aos pés deles e supliquei; jurei que o senhor não era um médico de verdade e que não tinham como acusá-lo. Envergonhados sejam todos os médicos ignorantes e estúpidos cuja arte se resume só a belas palavras.
¹. Letes: rio dos Infernos cujas águas davam àqueles que a bebiam o esquecimento (em grego lethe) e a despreocupação.
(Autor: Esopo)
OS ASNO E A RAPOSA
Um asno estava comendo as folhas de uma amoreira. A raposa o viu e disse-lhe rindo: "Como uma língua tão delicada e macia pode mastigar alimento tão áspero?" Algumas pessoas se servem da própria língua para destilar veneno. (Autor: Esopo)
O LOBO E A GARÇA
Um lobo que engolira um osso corria pelo campo procurando quem o salvasse. Ao encontrar uma garça, disse: - Por favor, tira-me esse osso da garganta e te recompensarei. A garça enfiou a cabeça na goela do lobo e retirou o osso. Depois ela reclamou a recompensa prometida. O lobo então respondeu: Já não te basta ter tirado tua cabeça sã e salva da boca de um lobo? O reconhecimento do homem mau se limita a não causar um novo mal a quem lhe fez o bem. (Autor: Esopo)
A HIENA E A RAPOSA
As hienas, dizem, mudam de sexo periodicamente: o macho se torna fêmea e vice-versa. Ora, como uma hiena repreendia uma raposa por rejeitar sua corte, a raposa respondeu: "Não é por mim, mas por tua natureza, pois não posso saber se me tomarás como um amante ou como uma amante". Cuidado com o homem ambíguo.
(Autor: Esopo)
A MULHER E AS CRIADAS
Uma viúva que trabalhava arduamente tinha por hábito acordar suas jovens criadas com o canto do galo para a lida. Cansadas de tanto trabalhar sem trégua, as criadas resolveram matar o galo: achavam que a razão de toda sua desgraça era ele, que acordava a senhora antes do dia nascer. Qual nada! Morto o galo, o destino delas piorou ainda mais: pois a senhora, sem o galo e, conseqüentemente, sem seu relógio, as convocava ainda mais cedo. Muito freqüentemente nossas desgraças são o fruto de nossas próprias resoluções. (Autor: Esopo)
OS PESCADORES
Os pescadores começaram a puxar a rede lançada ao mar. Ela estava pesada e, por isso, eles dançavam de alegria achando que tinham feito uma boa pescaria. Mas, quando a depositaram na areia, encontraram mais pedras que peixes. Foi aquela decepção: não tanto por não terem pescado nada, mas por terem acreditado na sorte. Então um velho do grupo falou: "Não nos deixemos abater, meus amigos: parece que o sofrimento é irmão da alegria. Seja como for, depois de nos termos alegrado antecipadamente, teríamos de sentir alguma tristeza". Vejamos como a vida é cambiante: é difícil reagir aos fatos com a mesma felicidade, pois não há bom tempo que não seja seguido de tempestade.
(Autor: Esopo)
O ALCIÃO
O alcião é um pássaro marinho que procura os lugares ermos. Dizem que, para se livrar dos caçadores, ele faz o ninho nos rochedos à beira-mar. Um dia, um alcião que queria pôr seus ovos seguiu um promontório e, tendo visto um rochedo batido pelas ondas, fez ali seu ninho. Tendo saído à procura de alimento, aconteceu que o mar, agitado por um vento fortíssimo, alcançou o ninho, inundou-o e matou os filhotes do alcião. Quando voltou, o pássaro, ao ver o que tinha acontecido, exclamou: - Pobre de mim! Para fugir das armadilhas da terra, refugiei-me no mar, onde os perigos maiores me esperavam. Ao fugir de nossos inimigos, nem sabemos que estamos indo a caminho de inimigos ainda mais temíveis.
(Autor: Esopo)
AS RAPOSAS
As raposas reuniram-se um dia à margem do Menandro para matar a sede. A corrente era forte e nenhuma delas ousava mergulhar, embora cada uma encorajasse a outra. Uma delas fez um discurso. Atacou as companheiras, zombou de sua covardia e, tendo exaltado a sua própria bravura, pulou na água. A correnteza veio e logo a arrastou. As outras, que estavam na margem, gritaram: - Não nos abandones, volta para nos dizer onde podemos beber água a salvo. O animal, levado pela correnteza, respondeu: - Estão me esperando em Mileto, pois tenho negócios a resolver lá. Na volta, lhes direi. Assim agem os fanfarrões contumazes.
(Autor: Esopo)
OS VIAJANTES E AS TOUCEIRAS
Alguns homens que viajavam pela praia chegaram ao alto de uma duna. Avistaram então umas touceiras flutuando ao longe e pensaram que se tratava de algum navio importante. Mas, quando o vento trouxe as touceiras para mais perto, acharam que era um barco comm um pescador. Finalmente, quando viram as touceiras chegar à margem, disseram uns para os outros: - Foi por isso que esperamos tanto tempo! Determinada pessoa que nossa ignorância transformou em alguém temível revela-se na realidade insignificante.
(Autor: Esopo)
OS LOBOS E O VELHO CARNEIRO
Os lobos enviaram uma embaixada aos carneiros: - Entreguem-nos os cães para que os matemos; em troca, faremos com vocês uma paz perpétua. Os cordeiros, em sua idiotice, não souberam responder nada. Mas um velho carneiro disse aos lobos: - Como vou confiar em vocês se mesmo com os cães nos guardando não posso pastar tranqüilo? Não te desfaças daquilo que te dá segurança baseado na palavra de teus inimigos jurados. (Autor: Esopo)
O CÃO, O GALO E A RAPOSA
Um cão e um galo que tinham feito amizade iam juntos por uma estrada. Quando veio a noite, o galo subiu numa árvore, enquanto o cão se aninhou no oco do tronco. Adormeceram. Como de costume, o galo cantou antes de o dia nascer. Uma raposa, escutando-o, correu até a árvore e pediu para ele descer: queria beijar um animal de voz tão bela. O galo respondeu-lhe: - Acorde antes o porteiro que está dormindo ao pé da árvore. Quando ele acordar, descerei. Quando a raposa foi conversar com o cão, ele saltou sobre ela e a despedaçou. Quando nossos inimigos nos atacam, astuciosamente mandemos que se entendam com os mais fortes que ele. (Autor: Esopo)
O CAMPONÊS E A ÁRVORE
Nas terras de um camponês, nascera uma árvore que não dava nenhum fruto: servia apenas para abrigar os pardais e as cigarras que cantavam. Por isso o camponês resolver cortar aquela árvore estéril. E, já com um machado na mão, ao dar o primeiro golpe, as cigarras e os pardais pediram para não destruir seu abrigo: - Poupa-a para que possamos continuar a encantar-te com nossos cantos. Sem se importar com tal pedido, o homem deu uma segundo golpe com o machado, depois um terceiro. Foi quando encontrou no oco da árvore um enxame de abelhas e mel. Antes mesmo de saboreá-lo, jogou longe o machado, tratou a árvore como se fosse sagrada e a cercou de cuidados. Assim somos nós: temos mais pressa em salvar os ganhos que fazer justiça.
(Autor: Esopo)
O LOBO ORGULHOSO DE SUA SOMBRA E O LEÃO
Hiperion já sumia no horizonte
Quando no deserto surgiu um lobo errante.
Falou assim ao ver sua sombra projetada:
"Meu medo do leão me parece infundado,
Com a minha silhueta será que não poderei
Aos outros animais parecer o rei?
Ia embalado em sua gloriosa quimera
Quando um bravo leão lhe declarou guerra.
Logo o lobo se refez: "Quem tão grande se acha termina fabricando sua própria desgraça". (Autor: Esopo)
O CAMPONÊS E A SERPENTE CONGELADA
Num certo inverno, uma camponês encontrou uma serpente enregelada de frio. Como ficou com pena, pegou-a para aquecê-la no calor do corpo. Uma vez aquecida e refeita, a serpente picou seu benfeitor. Já morrendo, ele exclamou: - Paguei o preço justo por ter tido piedade de quem nada vale. Os maaus não se comovem com a bondade que lhes cumulam.
(Autor: Esopo)
ZEUS E A SERPENTE
Como Zeus ia se casar, cada um dos animais deu-lhe um presente de acordo com suas posses. A serpente, arrastando-se, foi até ele levando uma rosa na boca. Ao vê-la, Zeus exclamou: - Aceito os presentes de todos, mas de tua boca não aceito nada. Cuidado com a bondade dos maus.
(Autor: Esopo)
A TARTARUGA E A LEBRE
Uma tartaruga e uma lebre discutiam para saber quem era a mais veloz. Por isso, combinaram uma data para uma corrida e um local aonde deveriam chegar. No dia certo, partiram. A lebre, que contava com sua rapidez natural, não se preocupou com a corrida. Caiu à beira de uma estrada e adormeceu. Já a tartaruga, que se sabia quão lenta era, não perdeu tempo e, deixando a lebre dorminhoca para trás, venceu a aposta. O talentoso com preguiça perde para quem enfrenta a liça.
(Autor: Esopo)
O LEÃO, O URSO E A RAPOSA
Um leão e um urso disputavam um pavão que tinham encontrado. Brigaram de tal forma que, sem sentidos, os dois caíram desacordados. A raposa, que passava por ali, vendo-os assim totalmente esgotados e próximos do pavão morto, apoderou-se deste e se foi. - Desgraçados de nós! Lutamos tanto para entregar tudo a uma raposa! -exclamaram os dois animais incapazes de se levantar. Não há nada que mais nos enraiveça do que ver um aventureiro se apoderar de nosso trabalho.
(Autor: Esopo)
OS VIAJANTES E O MACHADO
Dois viajantes iam pela mesma estrada. Como um deles encontrou um machado, o outro disse:
- Fizemos um achado.
- Não diga "fizemos", diga "fizeste" um achado - corrigiu o primeiro.
Pouco depois, apareceram os que tinham perdido o machado. O que o carregava, ao se ver perseguido, disse ao amigo:
- Estamos perdidos.
- Não diga "estamos", mas "estou" perdido - replicou o outro -, pois quando encontraste o machado, não me incluíste.
Se nossos amigos não partilham de nosso sucesso, nos abandonarão quando cairmos em desgraça.
(Autor: Esopo)
*********Marimaura*********
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