domingo, 7 de junho de 2009

Fábulas de Esopo parte IX


O LAGOSTIM E SUA MÃE

- Não andes de lado - dizia a mamãe -lagosta a seu filho -, pára de roçar as costas nas rochas úmidas.
- Mas, mamãe, aprendi com você: ande direito, que também andarei.
Quem quer consertar os outros deve primeiro se consertar.
(Autor: Esopo)


A GRALHA E A ANDORINHA

A andorinha dizia à gralha:
- Eu sou virgem e ateniense, princesa e filha do rei de Atenas.
E pôs-se a contar sua história: Tereus, suas sevícias, e o episódio da língua cortada¹. A gralha disse então:
- O que não ouviríamos se tivesses língua, porque mesmo sem ela ainda nos conta tantas histórias!
De tanta mentir, os loroteiros terminam se denunciando.
1. Alusão à lenda das irmãs Filomela e Procne. Um dia, Tereus, o marido de Procne, violentou a cunhada Filomela e depois lhe cortou a língua para que ela não pudesse ficar se lamentando. Filomela, no entanto, bordou sua história num pedaço de pano que deu à irmã. Esta decidiu se vingar de Tereus, matou o filho que tivera com ele e deu-lhe para comer. Quando Tereus descobriu a verdade, quis punir as duas irmãs. Os deuses tiveram então piedade delas e transformaram uma numa andorinha e a outra num rouxinol.
(Autor: Esopo)


O HOMEM E A RAPOSA

Um homem estava possesso com uma raposa que vinha prejudicando-o. Pegou-a e, como queria infligir-lhe um bom castigo, amarrou-lhe à cauda uma estopa embebida de óleo e ateou fogo. Depois, soltou-a em pleno campo. Mas um gênio esperto levou a raposa para os campos de seu carrasco. Ao acompanhar os passos da raposa, o homem ia se lamentando diante da colheita perdida.
Calma! Não te deixes levar pela ira desmedida: tua raiva poderá causar um grande mal.
(Autor: Esopo)


ZEUS E A RAPOSA

Maravilhado com a inteligência e a astúcia da raposa, Zeus a escolheu para rei dos animais. Mas quis saber se seus hábitos maliciosos tinham mudado junto com sua sorte. Quando a raposa ia passando numa liteira, ele pôs um escaravelho na frente dela. Incapaz de se conter diante do inseto que voava à sua volta, a raposa deu um pulo e, abandonando qualquer discrição, tentou pegá-lo. Zeus, indignado, a fez voltar à sua antiga condição.
Por mais que mude as aparências, o homem mau permanece o mesmo.
(Autor: Esopo)


AS CADELAS FAMINTAS

Duas cadelas famintas viram duas peles de animais dentro de um rio. Mas como pegá-las?
- Se bebermos o rio, o secaremos e as peles serão nossas.
Assim fizeram. Mas, de tanto beber água, explodiram bem antes de alcançar seu objetivo.
A pessoa cúpida expõe-se a perigos que a destroem antes de realizar o seu desejo.
(Autor: Esopo)


O LEÃO E O TOURO

Um leão, que estava pensando em como dar cabo de um enorme touro, preparou-lhe uma armadilha. Convidou-o para comer um carneiro que ele tinha sacrificado aos deuses. Ele pensava se lançar sobre o touro assim que estivessem à mesa. Quando chegou, o touro viu muitos caldeirões e enormes espetos, mas nada de carneiro. Sem uma palavra, retirou-se.O leão repreendeu-o:
- Não te fiz nada, por que vais embora assim sem dizer nada?
O outro respondeu:
- Tenho minhas razões: vejo que fizeram os preparativos não para um carneiro, mas para um touro.
As astúcias dos maus não atingem o homem sensato.
(Autor: Esopo)


O PASTOR BRINCALHÃO

Um pastor que levou suas ovelhas para pastar em uma aldeia distante gostava de fazer a seguinte brincadeira: gritava "os lobos estão atacando!" E chamava pelo socorro dos habitantes locais. Duas, três vezes, os moradores ficaram com medo e fugiram da cidade, para depois voltarem rindo. Mas os lobos terminaram atacando de verdade. Como estavam devorando os carneiros, o pastor gritou por socorro. Os moradores pensaram que fosse mais uma brincadeira e não lhe deram nenhuma atenção. Foi assim que o pastor perdeu seu rebanho.
Ninguém acredita no mentiroso mesmo quando diz a verdade.
(Autor: Esopo)


O PESCADOR E O LAMBARI

Um pescador jogara sua rede no rio e pescou um lambari. Era um peixe pequeno. Por isso este suplicou ao pescador para soltá-lo porque ele ainda estava muito pequeno.
- Mas, quando eu crescer e me tornar um belo peixe, poderás me pescar - disse ele ao pescador -, e seu lucro será bem maior.
O pescador respondeu:
- Eu seria muito idiota se menosprezasse o ganho de hoje por menor que seja para pôr minha esperança no futuro, por melhor que me pareça.
(Autor: Esopo)


O ASNO SELVAGEM E O ASNO DOMESTICADO

Um asno selvagem, ao ver um asno domesticado num vale pleno de sol, felicitou-o por sua pança redonda:
- Feliz és tu que podes te regalar assim.
Mas, quando ele o viu um pouco depois com um pesado fardo no lombo e acompanhado pelo dono que lhe batia com um pedaço de pau, exclamou:
- Não, eu não invejo mais teu destino, agora que estou vendo como pagas tuas regalias!
Não devemos invejar as vantagens que nos expõem aos perigos e ao sofrimento.
(Autor: Esopo)


O ASNO, O GALO E O LEÃO

Um galo ciscava ao lado de um asno. De repente, surgiu um leão que pulou sobre o asno. O galo então lançou seu grito e o leão fugiu (dizem que a voz do galo assusta os leões). O asno, pensando que o leão tinha fugido com medo dele, pôs-se a persegui-lo. Mas, quando o asno já estava bem distante sem que se pudesse ouvir mais a voz do galo, o leão se voltou e devorou-o.
Para nos destruir melhor, o inimigo se faz pequeno diante de nós.
(Autor: Esopo)


A ANDORINHA E A GRALHA

À andorinha que se achava o mais belo dos pássaros, a gralha replicou:
- Tua beleza só floresce na primavera, enquanto eu suporto também o inverno.
Mais vale uma longa vida que a beleza.
(Autor: Esopo)


O HOMEM MORDIDO POR UMA FORMIGA E HERMES

Diante de um navio que naufragava com os passageiros, um homem se pôs a invectivar contra a injustiça dos deuses; por causa de um que os tinha ofendido, estavam pagando os inocentes. Enquanto falava, foi mordido por uma formiga - havia muitas onde ele se encontrava. Apesar de só uma havê-lo mordido, ele matou todas. Hermes então tomou a palavra:
- Tu, que te vingas assim de uma formiga, não admites que os deuses ajam à tua maneira?
Diante da desgraça, não blasfeme contra os deuses: examina antes teus próprios erros.
(Autor: Esopo)


O MARIDO E A MULHER

Como sua mulher era ranzinza com a criadagem, um homem se dizia: "Gostaria de saber se ela ousaria tratar assim os empregados de seu pai". Encontrou um bom pretexto para mandá-la até a casa deste. Quando voltou, alguns dias depois, perguntou como tinha sido recebida.
- Os boiadeiros e os pastores - disse ela -, me olhavam de través.
- Pois veja, minha cara - disse ele -, se quem sai de manhã e só volta à noite com seus rebanhos te olhava assim, o que dizer de quem passa o dia inteiro contigo!
(Autor: Esopo)


O LEÃO, O LOBO E A RAPOSA

Um leão envelhecido estava doente em sua caverna. Todos os animais, exceto a raposa, tinham ido fazer uma visita ao seu rei. O lobo aproveitou a ocasião para denegrir a ausente:
- A raposa não tem nenhum respeito por nosso grande chefe, foi por isso que não veio visitá-lo.
Ele ainda estava terminando estas palavras quando apareceu a raposa. Quando a viu o leão soltou um rugido. Mas a raposa pediu que a deixassem se defender e disse:
- Entre os animais aqui reunidos, quem lhe prestou mais serviço que eu? Fui à casa de todos os médicos das redondezas atrás de um remédio capaz de curá-lo e o encontrei.
O leão quis logo saber qual era esse remédio. A raposa respondeu:
- O senhor tem de tirar a pele de um lobo vivo e vesti-la ainda quente.
O lobo foi logo morto e estendido no chão. A raposa disse rindo: “Não se deve atiçar a ira do chefe, mas sua benevolência”.
Quem quer fazer o outro de vítima termina se transformando nela própria.
(Autor: Esopo)


O ASNO QUE QUERIA PASSAR POR UM LEÃO

Um asno vestira a pele de um leão e todos o tomavam como tal: homens e animais fugiam dele. Mas um vento forte arrancou-lhe a pele e ele ficou nu. Todos voaram sobre ele e deram-lhe uma surra.
Quando quer imitar os ricos, o pobre se expõe à zombaria e ao perigo. A cada um sua própria condição.
(Autor: Esopo)


O PASTOR E O CÃO

Um pastor apascentava seu rebanho à beira de uma praia e o mar lhe pareceu tão calmo que ele se sentiu tomado pelo desejo de navegar. Seria comerciante. Vendeu então os carneiros e ganhou o alto-mar. Uma tempestade o surpreendeu e o barco começou a soçobrar. Ele jogou toda a carga nas águas e se salvou com muita dificuldade, mas sem nada. Depois de algum tempo, como um outro homem admirava o mesmo mar tranqüilo - e de fato ele estava naquele momento - o pastor lhe disse:
- Meu caro, ele está assim tão calmo porque ainda precisa de comida.
A experiência ruim deixa suas lições.
(Autor: Esopo)


O LEÃO E A RÃ

Um leão ouviu uma rã coaxar e se voltou, pensando tratar-se de um animal bem grande. Mas quando, instantes depois, viu que se tratava de uma rã saindo do açude, esmagou-a dizendo:
- Um corpo tão pequeno e tão grandes gritos!
Falastrões, cuidado!
(Autor: Esopo)


O CAMPONÊS E SEUS FILHOS

Um camponês tinha chegado ao fim de sua vida. Como queria que os filhos soubessem o que era cuidar da terra, chamou-os e lhes disse:
- Meus filhos, chegou a minha hora. Quanto a vocês, nada lhes faltará se procurarem o que escondi nas minhas vinhas.
Os filhos pensaram que ele estivesse falando de algum tesouro. Uma vez o pai morto, eles cavaram todo o terreno, mas em vão. Nada de tesouro, mas a vinha bem lavrada deu-lhes uva em abundância.
O tesouro é o trabalho.
(Autor: Esopo)


O ROUXINOL E O FALCÃO

Um rouxinol estava cantando no alto de um carvalho. Um falcão que estava morrendo de fome o viu e partiu certeiro em sua direção, levando-o em suas garras. Ao ver-se perto da morte, o rouxinol rogou ao falcão para soltá-lo:
- Não é um pobre rouxinol que vai matar tua fome. Se tens fome mesmo, vai pegar outros pássaros maiores.
O falcão replicou:
- Eu seria bem idiota se largasse o alimento que tenho em mãos para ir atrás de outras presas que nem estou vendo.
Por querer demais, o insensato termina perdendo até o que já possui.
(Autor: Esopo)


A ÁGUIA

Quando estava tocaiando as lebres do alto de um rochedo, uma águia foi ferida por uma flecha cuja ponta se enterrou em seun peito. Quando viu que se tratava de uma flecha adornada de penas, exclamou:
- É uma dupla tristeza morrer vítima de minhas próprias plumas.
O aguilhão que nos fere dói muito mais quando nós mesmos o fabricamos.
(Autor: Esopo)


A RÃ E A RAPOSA

Do açude onde estava, uma rã gritava para todos os animais:
- Eu sou médico, conheço todos os remédios!
A raposa então replicou:
- Como vais curar os outros se não consegues curar teu andar manco?
O ignorante pode nos instruir?
(Autor: Esopo)


OS BOIS E O LEÃO

Três bois pastavam sempre juntos. Mau negócio para o leão que queria devorá-los. Depois de conseguir separá-los com suas mentiras, devorou um depois do outro.
Se queres viver longe do perigo, desconfia de teus amigos e cuidado com os teus amigos.
(Autor: Esopo)


O CÃO E O JANTAR

Como seu dono estava preparando um festim para amigos e familiares, um cão convidou um de seus parentes:
- Venha para a nossa festa.
O convidado chegou todo feliz. Diante do belo jantar, ladrando para si mesmo disse:
- Oh! Não acredito no que estou vendo! Vou encher a pança e comer tanto que amanhã não terei fome.
Enquanto pensava isso, abanava o rabo. Confiava no amigo. Mas o cozinheiro vendo-o abanar o rabo pra lá e pra cá, pegou-o pelas patas e o jogou sem mais delongas pela janela. O animal se estorceu e caiu se lamentando. No caminho encontrou uma matilha de cães. Um deles lhe perguntou:
- E aí, amigo, comeu muito?
- Bebi e fiquei tão embriagado que nem sei mesmo por onde saí.
Desconfiemos das promessas feitas com os bens dos outros.
(Autor: Esopo)


O MORCEGO E AS DONINHAS

Um morcego havia caído no chão.Veio uma doninha e o capturou. Já ia matá-lo quando o morcego implorou:
- Deixa-me viver.
- Impossível - respondeu a doninha -, pois sou inimiga de todos os pássaros desde que nasci.
- Eu não sou um pássaro - disse ooutro.
E a doninha o deixou ir embora.
Pouco depois, o morcego caiu de novo e foi pego por outra doninha.
- Não me comas - suplicou.
A doninha disse:
- Detesto ratos.
O morcego falou:
- Não sou um rato, sou um morcego.
Mais uma vez conseguiu se salvar.
Assim, mudando duas vezes de nome, escapou da morte. A cada perigo, uma nova feição.
(Autor: Esopo)


AS ÁRVORES E A OLIVEIRA

Um dia, as árvores acharam-se no dever de escolher uma rainha e elegeram a oliveira:
- Sê nossa rainha.
Mas a oliveira respondeu:
- Vou ter de renunciar ao azeite que homens e deuses celebram em mim para ir chefiar as árvores?
As árvores foram então à figueira, mas esta respondeu:
- Vou renunciar à minha doçura, ao meu fruto suculento, para ir chefiar as árvores?
As árvores foram então ao pé de carrapicho e ele respondeu:
- Se vocês me sagraram rei, ponham-se sob minha tutela. Se não for assim, que de mim saia uma espécie de fogo capaz de devorar os cedros do Líbano.
(Autor: Esopo)

************Marimaura**********

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