O Ministério da Educação tem a satisfação de entregar a você,
professor(a) das escolas públicas de ensino fundamental, esta publicação
que vai ajudá-lo a conhecer os pressupostos teóricos da Prova Brasil, bem
como os exemplos de itens que constituem seus testes, associados a uma
análise pedagógica baseada no resultado do desempenho dos alunos.
Sabemos que a avaliação do aluno feita no processo cotidiano da sala
de aula é aquela que possibilita o diagnóstico da dificuldade individual de
cada criança e jovem ao apontar as medidas a serem tomadas para que o
direito de aprender seja garantido a todos os seus alunos.
A Prova Brasil e o SAEB integram o Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Básica. O SAEB traz resultados mais gerais; porém é um
instrumento importante para o planejamento de políticas públicas
que fortaleçam a escola e o trabalho de cada professor. Para que toda
a diversidade e as especificidades das escolas brasileiras pudessem ser
apreendidas e analisadas, foi criada a avaliação denominada Prova Brasil a
fim de retratar a realidade de cada escola, em cada município.
Tal como acontece com os testes do Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Básica, os da Prova Brasil avaliam habilidades desenvolvidas e
ajudam a identificar fragilidades no sistema educacional. No caso da Prova
Brasil, o resultado, quase censitário, amplia a gama de informações que
subsidiarão a adoção de medidas que superem as deficiências detectadas
em cada escola avaliada.
A presente publicação denominada Língua Portuguesa – Orientações
para o Professor – SAEB/Prova Brasil – 4ª série/5º ano – Ensino Fundamental
objetiva envolver docentes, gestores e demais profissionais da educação
no conhecimento e apropriação do que são a Prova Brasil e o SAEB
como instrumentos cognitivos de avaliação que, por sua vez, podem ajudar
muito o trabalho do professor. Esse objetivo norteou, igualmente, no
início do ano, a distribuição dos materiais PDE – PROVA BRASIL – Matrizes
de Referência, Temas, Tópicos e Descritores – Ensino Fundamental e PDE –
SAEB – Matrizes de Referência, Temas, Tópicos e Descritores – Ensino Médio.
Em outubro de 2009, será aplicada a 3ª edição da Prova Brasil e seus
resultados são importantes para o alcance das metas propostas pelo Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
O Ideb, um dos eixos do Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE), é um indicador sintético que combina o fluxo escolar (passagem dos
alunos pelas séries/anos sem repetir, avaliado pelo Programa Educacenso)
com o índice de desempenho dos estudantes (avaliado pela Prova Brasil
nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática).
Esta publicação, professor, lhe permitirá aprofundar e refletir sobre
as habilidades básicas avaliadas pela Prova Brasil e pelo SAEB. Em Língua
Portuguesa, estes instrumentos avaliam somente a leitura, sendo o texto
a menor unidade de sentido e, nesta perspectiva, exige a familiaridade
com diferentes gêneros textuais – notícias, fábulas, quadrinhos, entre
outros – sempre apresentados antes de cada uma das questões ou itens.
Assim, cada gênero textual implica o desenvolvimento de conhecimentos
específicos, sendo que o mais importante deles é o de compreender qual
a finalidade comunicativa.
Esperamos que você, professor, possa fazer uso deste material e
que ele o ajude a refletir sobre sua prática escolar e sobre o processo de
construção do conhecimento dos seus alunos, para que todos completem
o quinto ano do ensino fundamental lendo, escrevendo e interpretando
textos e outros materiais. A aquisição destes conhecimentos e habilidades
é fundamental e necessária para o alcance das competências exigidas na
educação básica.
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
Introdução
As pesquisas e práticas pedagógicas sobre o ensino da leitura e da escrita que
tiveram lugar nos últimos anos indicam a impossibilidade de conceber o ensino de
Língua Portuguesa somente como um processo de apropriação de um código. A
escrita é um sistema de representação da linguagem e, portanto, é preciso compreendê-
la na sua multiplicidade de funções e na sua forma de comunicação por meio
dos textos. Mais do que nunca, o desafio da educação continua sendo tornar o
estudante competente para que possa ler e entender aquilo que está registrado no
mundo, nas diferentes situações de comunicação e nas diferentes tarefas de interlocução
em que, como cidadãos, estamos inseridos.
Este desafio implica em desenvolver práticas sociais que envolvam a forma escrita
da língua e, também, em colocar o aluno em contato sistemático com o papel
de leitor e escritor, compartilhando a multiplicidade de finalidades que a leitura e
a escrita possuem: ler por prazer, para se divertir, para buscar alguma informação
específica, para compartilhar emoções com outros, para recomendar; escrever para
expressar as ideias, para organizar os pensamentos, para aprender mais, para registrar
e conservar como memória, para informar, para expressar sentimentos, para
se comunicar à distância, para influenciar os outros. Neste sentido, a escola deve
organizar o ensino para formar alunos praticantes da língua no sentido mais amplo,
ou seja, formá-los para que saibam produzir e interpretar textos de uso social: orais
e escritos.
A língua escrita deve ser apresentada na escola da mesma forma que é organizada na vida cotidiana, ou seja, por práticas sociais de leitura e escrita. E, portanto,
no âmbito escolar, o ensino deve se embasar tanto quanto possível em situações
reais que contextualizem a leitura e a escrita. Se quisermos ensinar os alunos a atribuírem
sentido aos textos que leem e a escreverem bons e compreensíveis textos,
devemos considerar a cultura que os alunos já trazem de fora da escola, as práticas
sociais da leitura e da escrita e os comportamentos sociais de leitor e escritor. Isto é,
conhecer os problemas reais que um leitor e um escritor enfrentam no dia a dia: o
que e como escrever, como usar os diferentes textos, como oscilar nos movimentos
que animam os textos. Muito mais do que uma técnica, o que se quer ensinar
aos alunos é uma atitude social e cultural diante da leitura e da escrita. Afinal, saber
comunicar-se apropriadamente por escrito e dominar as possibilidades de uso dos
textos é condição essencial para uma plena participação no mundo da cultura escrita.
Por isso, faz parte do processo de aquisição da língua a apropriação da leitura e da
escrita como instrumentos fundamentais de crescimento pessoal e inserção social.
Na perspectiva de conhecer, efetivamente, como a escola desempenha esta
função precípua, o MEC propõe a avaliação da Educação Básica como um novo paradigma
para oferecer condições de um conhecimento de como estamos formando
nossos alunos, do que nossos estudantes realmente dominam na área específica de
língua.
Há neste aspecto uma diferença fundamental entre o que se avalia neste processo
e o que se ensina na escola. Ou seja, a avaliação verifica uma parte importante
do conhecimento que o estudante deve desenvolver ao longo da escolarização: a
competência leitora. Entretanto, como vimos acima, o domínio da língua pressupõe
não só o desenvolvimento da capacidade de leitura, mas também a proficiência na
escrita e o conhecimento das diferentes funções comunicativas dos textos. Por isso,
é preciso que nós, professores, tenhamos consciência do que é avaliado em uma
prova desta natureza e da amplitude que nosso currículo escolar deve ter, o que
pode ser percebido ao se entender as diferenças fundamentais entre os dois diferentes
tipos de matrizes que veremos a seguir.
As diferenças entre a matriz curricular e a matriz de referência .
Uma dúvida muito comum nas discussões sobre Avaliação é a diferença entre
o que se denomina Matriz Curricular, ou seja, currículo de uma disciplina, dentro do
Projeto Pedagógico de uma instituição de ensino e Matriz de Referência, elenco de
habilidades e competências definidas em unidades denominadas descritores, agrupadas
em tópicos que compõem a matriz de uma dada disciplina em avaliações dos tipos
Prova Brasil e SAEB.
Primeiramente, deve-se reforçar a ideia de que não se pode construir os instrumentos
de avaliação denominados de larga escala sem que nos reportemos à experiência
da disciplina em sala de aula. Portanto, não se pode pensar em avaliação de Língua
Portuguesa na área de leitura, sem que levemos em consideração um fazer pedagógico
(aqui denominado curricular) comum e necessário nas aulas de língua materna.
Ao se pensar em uma matriz curricular, de forma atualizada, cada escola, junto ao
seu corpo docente, deve pensar em um ensino voltado para a autonomia, o protagonismo,
a participação cidadã e a qualificação continuada, norteado para:
a) Domínio do uso da língua materna, nas suas manifestações orais e escritas,
tanto para a leitura de textos quanto para a sua produção;
b) Reflexão analítica e crítica sobre a linguagem como fenômeno social, histórico,
cultural, político, etc;
c) Visão crítica dos fenômenos linguísticos no uso dos recursos gramaticais a
serviço dos propósitos comunicativos do produtor do texto.
A matriz de referência de Língua Portuguesa para as avaliações Prova Brasil e
SAEB tem um foco específico em Leitura, o que de per si já ratifica o que afirmamos
em relação à matriz curricular. Neste caso, a matriz hoje em vigor faz um recorte
do ensino, avaliando uma das áreas fundamentais que compõem o ensino de língua
materna: avalia-se a capacidade de leitura do estudante.
O sujeito competente no domínio da linguagem é capaz de compreender (e
produzir) textos orais e escritos, adequados às situações de comunicação em que
atua, de posicionar-se criticamente diante do que lê e ouve, de ler (e escrever)
produzindo sentidos, entendendo o propósito comunicativo do produtor do texto,
formulando hipóteses de leitura, articulando respostas significativas em variadas
situações de comunicação. Esta visão traz em seu cerne que a leitura e a compreensão
se constituem em um ato social e não uma atividade individual. Neste
sentido, talvez seja a maior contribuição que a matriz de referência pode oferecer à
matriz curricular e ao nosso fazer em sala de aula. Ou seja, não aprendemos a Língua
Portuguesa na escola para cumprir uma necessidade individual. Aprendemos a
ler e a escrever porque estamos inseridos em um grupo social, entendendo que a
língua só se realiza, efetivamente, na interação entre sujeitos.
Aspectos que evidenciam uma avaliação de
Língua Portuguesa
O SAEB e a Prova Brasil, como se sabe, são programas nacionais do MEC – INEP
que se destinam a avaliar a proficiência dos estudantes nas duas áreas específicas. Em
termos de Língua Portuguesa, a aferição da competência leitora, como dito no item
dois, ocorre partindo da matriz de referência cuja concepção pedagógica segue uma
visão textual. Esta característica representa um avanço, ao considerarmos o entendimento
do que seja aprender língua portuguesa, ou melhor, ser proficiente na língua
materna. É esta matriz que norteia a confecção dos itens que compõem a Prova Brasil
e o SAEB.
Estas avaliações evidenciam três pilares fundamentais: a presença do texto; os descritores,
reunidos em seis tópicos, que apresentam as habilidades de leitura a serem
avaliadas; e as estratégias de perguntas que compõem o denominado item de leitura.
13
1 O texto: base fundamental da construção
do item
A finalidade da escola é ampliar a vivência dos estudantes, para que saibam produzir
e interpretar textos de uso social (orais e escritos), nos diferentes contextos
de comunicação que se apresentam nas diferentes situações de comunicabilidade
ao longo da vida. A proposta é aproximar os alunos da diversidade textual que
existe fora da escola, tendo práticas de leitura e escrita que permitam ao estudante
experimentar como cada um está inserido em um ato de comunicação específico,
com seus diversos propósitos e leitores.
Nossa experiência como falantes nos leva a entender que a comunicação linguística
não se dá em unidades isoladas, tais como meros sons, palavras soltas,
sílabas ou, simplesmente, sinais. Para que, efetivamente, a situação de comunicação
exista, nossa prática discursiva se dá por meio de textos, unidades maiores de
significação. Portanto, podemos entender o TEXTO como uma unidade de significação
que pressupõe, necessariamente, um contexto, um evento comunicativo
para se realizar, com a presença de interlocutores a que denominamos produtores
do texto e leitores (ou ouvintes).
1.1 Os descritores de 4ª série (5º ano)
A matriz de referência (com foco em leitura) apresenta um conjunto de descritores
de habilidades que atende ao enfoque dado à prova para avaliar um conjunto
de procedimentos cognitivos, de capacidades de leitura do estudante. A matriz de
referência de Língua Portuguesa está estruturada em duas dimensões. Na primeira
dimensão, denominada “objeto de conhecimento”, são elencados seis macrotópicos,
relacionados a habilidades desenvolvidas pelos estudantes, a saber:
a) Tópico I – Procedimento de leitura – Diz respeito a procedimentos fundamentais
do ato de ler no que tange às informações explícitas e implícitas
do texto, desde a localização, o entendimento de palavra ou expressão,
compreensão global da informação, até o resgate de informação nas
entrelinhas do texto.
compreensão de texto – Diz respeito à “embalagem” em que o texto
aparece, ou seja, sua estrutura, seu suporte, a forma como é veiculado,
o que o caracteriza em um dado gênero discursivo.
ou seja, a comunhão entre textos quer na forma, quer no conteúdo.
É o conjunto de relações explícitas (ou implícitas) que um texto
mantém com o outro. Neste caso específico, requer a comparação entre
textos do mesmo tema.
respeito às ligações de sentidos, tanto em nível micro quanto em nível
macrotextual, ou seja, de que forma os recursos gramaticais estabelecem,
por exemplo, as relações de continuidade do texto. A palavra de
ordem neste tópico é o estabelecimento de relações semânticas, ou seja,
relações de sentido no texto.
tópico diz respeito ao uso de recursos quer lexicais (vocabulário), quer
fonológicos (da relação entre letra e som), quer notacionais (pontuação e
de outros sinais gráficos), e o efeito de seu uso, de sua escolha no texto.
língua (as diferenças de cada falante no uso da língua), e partindo de uma
concepção de língua que varia no tempo, no espaço, socialmente, nas diferentes
formas de falar das pessoas, homens, mulheres, crianças, idosos,
este tópico visa à identificação das marcas que caracterizam os interlocutores
do texto.
À primeira vista, pode-se afirmar que os seis tópicos que abrigam os quinze
descritores da 4ª. série do ensino fundamental se apresentam em uma perspectiva
do texto e de seu processo de uso, não em uma perspectiva do conteúdo.
Não estão sendo avaliados conteúdos específicos de língua portuguesa na série
ou na etapa da escolarização. É esta a peculiaridade de uma matriz que avalia a
competência leitora. Os tópicos que aglutinam os diferentes descritores de habilidades
apresentam as condições necessárias para um adequado processamento
da leitura pelo sujeito. O leitor proficiente é capaz de reconstruir diferentes situações,
eventos, ações, personagens, léxico (vocabulário), expressões para chegar
à compreensão do texto, utilizando para isto muitas operações que nem sempre
são conscientes. É interessante observar, ainda, que os três primeiros tópicos estão
ligados ao texto em sua “estruturação arquitetônica”; os três últimos, à sua constituição
corporal, ou seja, os recursos linguísticos que contribuem, em diferentes
perspectivas, para a construção do texto.
Cada tópico reúne um grupo de descritores que visa à avaliação de diferentes
competências do leitor. Passemos à análise dos descritores.
1.1.1 Tópico I – Procedimento de leitura – 4ª série (5º ano)
Constituem este tópico cinco descritores de habilidades.
D1 - Localizar informações explícitas do texto
de informações que estão claramente apresentadas no texto. Trata-se de localização
de informação explícita, claramente identificável, o que permite avaliar se o
estudante é capaz de localizar a informação, sem o auxílio de informação concorrente
no texto.
D3 – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão
O grau de familiaridade com uma palavra depende da frequência de convivência
com ela, que, por sua vez, está ligada à intimidade com a leitura, de um modo
geral, e, por conseguinte, à frequência de leitura de diferentes gêneros discursivos.
Por isso, a capacidade de inferir o significado de palavras – depreensão do que está
nas entrelinhas do texto, do que não está explícito – evita o sério problema que
se constitui quando o leitor se depara com um grande número de palavras cujo
significado desconhece, o que interfere na leitura fluente do texto. Assim, a inferência
lexical – recobrir o sentido de algo que não está claro no texto – depende de
outros fatores, tais como: contexto, pistas linguísticas, para haver compreensão.
Da mesma forma que se depreende o sentido implícito de uma expressão,
há uma complexidade um pouco maior quando se pensa em inferência de informações.
Este descritor requer do leitor uma capacidade de construir a informação
que está subjacente ao texto, partindo do contexto e das pistas linguísticas que o
texto oferece. Trata-se, na verdade, do desvendamento do que está subjacente,
posto que há um balanceamento entre as informações de superfície do texto e
aquelas que serão resgatadas nas entrelinhas do texto. Não é possível explicitar
100% as informações, sejam elas quais forem. Por isso, pode-se dizer que existem
graus diferentes de implicitudes do texto.
reconhecimento do tópico global do texto, ou seja, o leitor precisa transformar
os elementos dispostos localmente em um todo coerente.
D11 - Distinguir um fato da opinião relativa deste fato
Dois conceitos são importantes neste descritor: fato e opinião
relativa ao fato. O primeiro – fato – algo que aconteceu
(acontece), está relacionado a algo real, quer no mundo “extratextual”,
quer no mundo textual. Já a opinião é algo subjetivo,
quer no mundo real, quer no mundo textual, que impõe,
necessariamente, uma posição do locutor do texto. Este é um
descritor bastante importante, porque indica uma proficiência
crítica em relação à leitura: a de diferenciar informação de uma
opinião sobre algo.
É preciso ressaltar que, frente aos objetivos da avaliação
a que estes descritores estão ligados, os procedimentos
de leitura dizem respeito à localização e à identificação
das informações.
1.1.2 Tópico II – Implicações do suporte, do gênero, e/ ou
do Enunciador na compreensão de texto
São dois os descritores deste tópico.
foto, etc.)
Considera-se parte constitutiva da habilidade de leitura a construção da estrutura
textual e de que forma esta estrutura traz implicações na compreensão
de texto. Por isso, entende-se que este descritor requer a construção de uma
“armação” sustentadora do assunto, ligada ao texto. Neste caso, o material gráfico
pode levar o leitor a entender as relações mais abstratas. A informação focada no
material gráfico pode preparar para a leitura verbal do texto. Entretanto, é, sem
dúvida, necessária uma intimidade com este tipo de linguagem, que visa à articulação
dessas duas formas de linguagem (verbal e não verbal).
como também ao reconhecimento de sua finalidade, seu propósito comunicativo.
1.1.3 Tópico III – Relação entre texto
Há apenas um descritor de habilidade neste tópico.
que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e
daquelas em que será recebido
do descritor a relação de interação que se estabelece entre os interlocutores.
Isto pressupõe entender de que forma o texto é produzido e como ele é
recebido. Neste sentido, admite-se a ideia de polifonia, ou seja, da existência de
muitas vozes no texto, o que constitui um princípio que trata o texto como uma
comunhão de discursos e não como algo isolado. Neste tópico, a ideia central é a
ampliação do mundo textual.
1.1.4 Tópico IV – Coerência e Coesão no Processamento do Texto
Há seis descritores neste tópico.
que contribuem para a continuidade de um texto
Trata-se de uma habilidade fundamental para o entendimento do texto: relacio-
17
nar as partes de um texto, tanto nas relações entre parágrafos, quanto nas relações
dentro do parágrafo. Embora requeira do leitor um conhecimento gramatical das
funções que um sintagma nominal e um pronome, por exemplo, podem exercer
na frase, não se trata – é importante enfatizar – de uma identificação de palavras,
mas de identificação de relações semânticas a que se pode atribuir coerência de
sentidos no texto.
Neste descritor, vamos nos ater mais especificamente ao tipo de texto (narrativo)
e a seus componentes fundamentais. Portanto, diz respeito à construção
da coerência entre os elementos da narrativa em relação ao conflito que gera o
enredo.
A coesão sequencial diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos
quais se estabelecem, entre segmentos do texto, diversos tipos de relações semânticas,
responsáveis por fazer o texto progredir. Neste caso específico, a relação
é de causa/consequência: a busca dos porquês nas relações textuais.
advérbios, etc.
De forma mais ampla, este descritor visa à ampliação dos descritores anteriores
no que tange ao papel que as diferentes palavras exercem na língua. Trata-se de
relação de coesão, ou seja, de ligação entre partes do texto, mas, neste caso, estabelecidas
por palavras que substituem outras, como, por exemplo, os advérbios
e as conjunções. Aqui está um bom exemplo do que é um processamento textual
e um conteúdo em sala de aula. Neste caso, não basta o estudante reconhecer o
advérbio de tempo, modo ou lugar, por exemplo, mas entender como este advérbio
une um parágrafo e outro, por exemplo, ou que relação de sentido estabelece
entre uma ideia e outra dentro do parágrafo.
1.1.5 Tópico V – Relação entre recursos expressivos e efeitos
de sentido
Há dois descritores de habilidades neste tópico.
A proficiência leitora requer do leitor a capacidade de perceber os envolvidos
no texto e também suas intenções. Neste sentido, o uso de determinadas palavras
e expressões constituem pistas linguísticas que levam o leitor a perceber, por
exemplo, um traço de humor do texto. Neste descritor, o leitor proficiente deve
perceber o efeito que a palavra, expressão ou a construção de uma ideia, de forma
irônica ou humorística podem causar no texto.
Este descritor visa ao reconhecimento discursivo do uso dos sinais de pontuação,
ou seja, que efeito provocam no texto, indicando uma pista linguística para
entender a intenção comunicativa. Aqui se faz necessário marcar a diferença entre
o que é gramatical: saber usar os sinais de pontuação, e o que é discursivo: saber
avaliar o efeito decorrente do uso em dado contexto. Esta é outra contribuição
importante da matriz de referência: não basta o estudante conhecer os termos
gramaticais. É fundamental que o estudante saiba relacionar o uso dos recursos
gramaticais ao contexto discursivo. É neste sentido que vimos enfatizando que a
matriz de referência apresenta um cunho textual, que investiga, efetivamente, o
processo das informações a partir dos recursos disponíveis na língua.
1.1.6 Tópico VI – Variação Linguística
Há, apenas, um descritor de habilidade neste tópico.
um texto
Partindo de uma concepção dialógica do texto, o descritor 10 visa à identificação
das marcas que podem caracterizar os interlocutores, em diferentes momentos,
espaços, etc. já que sabemos que usamos a mesma a língua, mas a usamos de
forma diferente, quer pelas nossas próprias características, quer pelo nosso nível
de escolarização, informalidade ou formalidade do quê e como queremos dizer,
nossos regionalismos, etc. Deve-se lembrar que os parâmetros da variação são
diversos. Entretanto, estão imbricados, pois, no ato de interagir verbalmente, o
falante acionará a variante linguística relativa ao contexto em que está inserido, de
acordo com as intenções do ato de comunicação.
2 Estratégias de perguntas de avaliação em leitura
para a 4ª série (5º ano)
Uma característica fundamental de uma avaliação é a presença do item, da
questão a ser respondida pelo estudante. Dadas as características da avaliação
sobre a qual estamos aqui tratando, constitui-se como uma característica peculiar
da prova de leitura um item elaborado, contendo, necessariamente, as seguintes
partes: o texto; o enunciado; e as opções de respostas. Passemos à caracterização
de cada uma das partes fundamentais.
Texto (ou fragmento de texto): A presença de texto, em geral de curta extensão, porém com um “recorte coerente”, é condição primeira para a organização
do item de leitura. Isto ocorre porque não se entende a língua de forma isolada. A
comunicação só acontece em dado contexto, na interação entre sujeitos. O texto
é unidade básica para formar bons leitores e escritores, por isso ele aparece no
item nas suas variadas formas de comunicação.
Comando do item (ou enunciado): é a pergunta para a qual se quer resposta.
Este enunciado é o desafio de leitura que se apresenta ao leitor. É interessante
observar que o grau de complexidade do item é crescente de acordo com o nível
de proficiência por ele exigido. Por isso, cada pergunta é fundamental para caracterizar
a proficiência do estudante. Ela inclui as habilidades exigidas no processo de
leitura, e também indica qual a dificuldade exigida em cada uma dessas habilidades
(por exemplo, localizar uma informação no início do texto ou no meio do texto).
Por conseguinte, existe uma intrínseca relação entre a pergunta feita, a competência
a ser medida e o nível de proficiência leitora.
Opções de Resposta: são quatro possíveis respostas, na 4ª série/5º ano (plausíveis
ao texto-base, ou seja, que não devem fugir do texto proposto), mas com,
apenas, uma resposta correta ao comando solicitado. As opções que não correspondem
à resposta correta são denominadas distratores e estão circunscritos ao
texto-base, embora não sejam corretos em relação ao comando proposto.
na 4ª série (5º ano)
Para que caracterizar os níveis?
Considerando que os resultados da avaliação de leitura
do SAEB e da Prova Brasil são organizados em uma escala
de proficiência, para atender a finalidade desse documento
– esclarecer a escola a respeito da proficiência em leitura
de seus alunos e orientar a ação docente para que essa
proficiência possa ser ampliada e aprofundada – consideramos
necessário, inicialmente, caracterizar os níveis nos
quais a escala está organizada.
Pretendemos, com isso, esclarecer a escola a respeito
de quais critérios foram utilizados para a organização destes níveis.
Estes critérios poderão, por um lado, oferecer informações
mais específicas a respeito de quais são as habilidades já constituídas
pelos seus alunos; por outro, orientar a ação da escola para
a organização de um trabalho que possibilite aos alunos a constituição,
aprofundamento e ampliação de diferentes habilidades de
leitura.
Porém, mais do que esclarecer quais foram os critérios, pre-
tendemos discuti-los, explicá-los, exemplificar o que representam, para que o professor
possa utilizar essa informação como auxílio à sua ação didática cotidiana, de
maneira que contribua, efetivamente, e da melhor maneira, para a formação do
leitor competente.
O que são níveis de competência?
Um nível é uma classificação utilizada para caracterizar as habilidades de leitura
comuns a um grupo de alunos que realizam uma avaliação, de forma a permitir a
identificação de determinada competência leitora já construída por esse grupo de
alunos. Essa competência, portanto, é caracterizada pelo conjunto de habilidades
que esses alunos já possuem para ler determinados textos, organizados em determinados
gêneros.
É preciso deixar bem claro que estes níveis, no SAEB e na Prova Brasil, não são
indicados a priori, ou seja, antes de os alunos realizarem a avaliação, procurando-se
“encaixar” os resultados nos níveis descritos. Ao contrário, no processo de computação
de resultados e estudo do processo avaliativo, os resultados é que orientam
a definição dos níveis. Procura-se agrupar alunos por competência construída, por
conhecimentos de leitura já adquiridos e capazes de serem mobilizados de maneira
autônoma pelos alunos, já que a avaliação é realizada individualmente. Isso
significa dizer que, quando se olha para os resultados, são analisadas as respostas
dos alunos em função das capacidades que souberam mobilizar em cada item proposto
na avaliação – de maneira independente e, portanto, sem ajuda de outros
parceiros – para responder adequadamente às questões propostas.
Em decorrência disso, agrupam-se os resultados identificando-se quais habilidades
são comuns a um grupo de alunos, de maneira que essas habilidades os distinguem
de outro grupo de alunos, em função do grau de complexidade das atividades
que conseguiram desempenhar adequadamente em cada item proposto. Esse grau
de complexidade é que determina a competência demonstrada, na avaliação, por
um grupo de alunos e, portanto, o nível de competência por eles demonstrado.
4 Os Critérios de Organização dos Níveis de
Competência
Os níveis foram, neste documento, organizados tomando-se como referência
alguns critérios, quais sejam:
a) as habilidades identificadas nos descritores mais presentes nas questões
elaboradas (os itens);
dos itens.
4.1 As habilidades de leitura relacionadas aos descritores
mais frequentes
Conforme dito acima, os descritores definidos em uma avaliação como o
SAEB/Prova procuram – como o próprio nome diz — descrever algumas das
habilidades de leitura priorizadas na avaliação. Sendo assim, quando um item é elaborado,
isso acontece com a intenção de avaliar se o aluno já é capaz de mobilizar
essa habilidade no processo de recuperação dos sentidos do texto.
Sendo assim, tomemos o seguinte exemplo:
No aniversário de 70 anos do personagem mais “esquentado” da
animação, o Pato Donald, os fãs brasileiros serão presenteados.
Em setembro, será lançado o DVD duplo A Cronologia do Donald,
com os curtas estrelados pelo personagem entre 1936 e
1941, quando saiu o filme Chef Donald.
Para comemorar o evento, Don Rosa, autor de várias das histórias
clássicas do personagem, veio ao país para participar do Festival
Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco. O Pato
Donald “nasceu” no dia 9 de junho de 1934.
REVISTA ÉPOCA. Nº 316. 07 de junho 2004. Editora Globo, p. 13.
Se a este texto forem apresentadas as seguintes perguntas:
(B) Qual o título do DVD duplo que será lançado com as histórias do Pato
Donald?
(C) Qual é o nome do personagem que está fazendo 70 anos?
semântica do texto, por meio da localização das informações solicitadas. É esta,
portanto, a habilidade que precisará ser mobilizada pelo aluno: a de localizar uma
informação explícita em um texto.
No SAEB e na Prova Brasil, essa habilidade corresponde ao Descritor 1 (D1).
Dessa maneira, se em um nível esse descritor for um dos mais frequentes,
quer dizer, se grande parte dos itens agrupados naquele nível requererem que o
aluno mobilize esta habilidade, então, a proficiência dos alunos incluídos nesse nível
indicará que ele se apropriou desse saber.
Nessa perspectiva, há um conjunto de habilidades que caracteriza a competência
de determinado grupo de alunos, diferenciando-os de outros grupos, e,
dessa maneira, constituindo um nível de proficiência específico, com características
particulares.
No entanto, qualquer que seja a habilidade de leitura que o aluno deva mobilizar,
ela não pode ser considerada à revelia dos textos que deverão ser lidos. Isto
porque todo texto que se lê ou que se produz é organizado em um gênero, fala
de determinado assunto, é dirigido para determinados interlocutores, é publicado
em determinado portador e veículo. Esses aspectos todos constituem um conjunto
de elementos que chamamos de contexto de produção de um texto, os quais
definem e determinam as características de um texto.
Tomemos como exemplo o texto a seguir:
EVA FURNARI
Eva Furnari nasceu em Roma (Itália) em 1948 e chegou ao Brasil
em 1950, radicando-se em São Paulo. Desde muito jovem, sua
atração eram os livros de estampas – e não causa estranhamento
algum imaginá-la envolvida com cores, lápis e pincéis, desenhando
mundos e personagens para habitá-los...
Suas habilidades criativas encaminharam-na, primeiramente, ao
universo das Artes Plásticas, expondo, em 1971, desenhos e pinturas
na Associação dos Amigos do Museu de Arte Moderna, em
uma mostra individual. Paralelamente, cursou a Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da USP, formando-se no ano de 1976. No
entanto, erguer prédios tornou-se pouco atraente quando encontrou
a experiência das narrativas visuais.
Iniciou sua carreira como autora e ilustradora, publicando histórias
sem texto verbal, insto é, contadas apenas por imagens. Seu primeiro
livro foi lançado pela Ática, em 1980, Cabra-cega, inaugurando
a coleção Peixe Vivo, premiada pela Fundação Nacional do
Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ.
Ao longo de sua carreira, Eva Furnari recebeu muitos prêmios,
entre eles contam o Jabuti de “Melhor Ilustração” – Trucks (Ática,
1991), A bruxa Zelda e os 80 docinhos (1986) e Anjinho (1998)
– sete láureas concedidas pela FNLIJ e o Prêmio APCA pelo conjunto
de sua obra.
http://caracal.Imaginaria.com/autografas/evafurnari/index.html
23
Trata-se de uma biografia, publicada em um site especializado em literatura,
não orientado especificamente para um público infantil.
Suponhamos que a este texto fosse apresentada a seguinte pergunta
Em que cidade Eva Furnari foi morar quando chegou ao Brasil?
Teríamos, então, uma pergunta cuja resposta envolveria, também, a localização
de informação explícita no texto, correspondente ao Descritor 1. No entanto,
quando analisamos o texto, vemos que, para responder essa questão, é necessário,
para localizar a informação, compreender o item lexical “radicando-se”, mais
comum a textos que circulam em esferas nas quais as situações de comunicação
utilizam registros mais formais de linguagem e variedades mais próximas da linguagem
padrão. A questão envolve, portanto, um grau de dificuldade maior que as
apresentadas ao primeiro texto, devido à sofisticação lexical.
O grau de familiaridade com textos organizados nesse gênero também pode
interferir no processo de compreensão, pois, quando nos deparamos com um
texto e identificamos o gênero no qual está organizado, ativamos um repertório de
informações acerca de como o texto se organiza, o qual nos dá fluência semântica,
isto é, nos auxilia a recuperar mais rapidamente os sentidos presentes no texto.
Se já tivemos contato com uma biografia, sabemos qual a sua finalidade, que
tipo de assunto costuma ser tratado em um texto como esse e de que maneira as
informações costumam estar organizadas em textos como este. Esperamos, então,
encontrar informações sobre uma personalidade que tenha relevância social
em determinados grupos, em determinado momento histórico; sabemos que estas
informações tratarão da vida toda dessa personalidade, do nascimento à morte
– caso já tenha falecido; e antecipamos que estas informações serão apresentadas
em uma sequência temporal. Sabemos, antes mesmo de ler o texto, que informações
sobre onde nasceu a personalidade em questão, onde morou, o que fez de
relevante serão apresentadas no texto.
Assim, com esse repertório todo ativado, fica mais fácil localizar determinada
informação solicitada. Se o gênero não for conhecido, esse repertório não será
ativado, o que tornará mais difícil a leitura.
Vemos, então, que tanto a complexidade do texto quanto o grau de familiaridade
que se tem com o gênero no qual o texto foi organizado interferem no
processo de atribuição de seu sentido. Dessa forma, localizar uma informação
pode ser tarefa mais ou menos fácil para o leitor, dependendo também dessas
variáveis.
Nesse contexto é que se coloca o estabelecimento do segundo e terceiro critérios
utilizados para caracterizar um nível de competência, quais sejam: os gêneros
de textos mais frequentes e sua complexidade, nos instrumentos de avaliação
do SAEB e da Prova Brasil.
24
4.2 Os gêneros de texto mais frequentes nos itens do
SAEB e da Prova Brasil
Nessa perspectiva, os gêneros mais frequentes nos itens organizados nos
instrumentos do SAEB e da Prova Brasil também são critérios que compõem as
características de um nível, pois o grau de familiaridade que o aluno tem com determinados
gêneros também é definidor de sua proficiência leitora. Assim, como já
dito, se um aluno nunca leu uma biografia antes, terá mais dificuldade em recuperar
os sentidos do texto que lê do que se já tiver familiaridade com o gênero.
Além disso, há gêneros cuja compreensão envolve capacidades linguísticas
mais complexas do que outros, como, por exemplo, aqueles que envolvem a habilidade
de argumentação, o que implica – nas atividades de leitura – que o aluno
consiga identificar os procedimentos de sustentação, refutação e negociação de
posições desenvolvidos e utilizados em um texto pelo seu produtor. Pode-se dizer
que esta é uma habilidade mais complexa do que, por exemplo, a de identificar
ações organizadas na sequência temporal em que ocorreram. Nesse sentido, ler
um artigo de opinião, um ensaio, uma monografia, uma tese é atividade mais complexa
do que ler, por exemplo, um relato de experiência vivida, uma biografia, um
diário pessoal, uma carta pessoal, um bilhete.
Os diferentes gêneros requerem capacidades linguísticas distintas. Sendo assim,
a competência leitora do sujeito também é definida pela sua mestria em mobilizar
as habilidades requeridas pelos diferentes gêneros. Essa mestria dependerá do
grau de familiaridade que o aluno possui em relação a esse gênero, que é construído
pelas oportunidades que já teve de ler textos organizados nesses gêneros.
tarefas solicitadas
Antes de discutirmos a questão da complexidade dos textos, é importante que
recuperemos uma diferença muito importante existente entre gênero e texto.
Os primeiros – os gêneros – são as formas nas quais os textos se organizam.
Estas formas possuem características específicas relacionadas aos conteúdos que
podem ser tratados nos textos de determinado gênero, à composição interna das
informações e às sua marcas linguísticas gerais.
Os segundos – os textos – são a materialidade linguística de um discurso, seja
essa materialidade fônica (textos falados) seja ela gráfica (textos impressos).
Assim, temos vários gêneros na nossa cultura, nesse momento, que circulam
em várias esferas (acadêmica, científica, jornalística, escolar, religiosa, de consumo,
literária, entre outras): artigos de opinião, notícias, reportagens, classificados, receitas
culinárias, receitas médicas, bulas de remédios, contos de fadas, contos policiais,
crônicas, verbetes de dicionário, verbetes de enciclopédia, artigos expositivos, fábulas,
mitos, lendas, anúncios publicitários, biografias, romances literários, contos
de aventura, poemas, cartas, cartas de leitores, bilhetes, entre tantos outros.
Para cada gênero citado, temos uma infinidade de textos elaborados. Assim,
conhecemos muitos contos de fadas diferentes: A Gata Borralheira, A Bela e a
Fera, Branca de Neve e os Sete Anões, Pinóquio, entre outros. Cada um desses
contos é um texto, mas todos se organizam em um único gênero, que confere a
todos esses textos características comuns.
No entanto, há, por exemplo, várias versões de um mesmo conto: das mais
sofisticadas às mais simples. Há adaptações que são feitas dos textos clássicos, por
exemplo, para atender às possibilidades de leitura de leitores menos
experientes. Quando falamos disso, estamos nos referindo à complexidade
dos textos, em si.
Os alunos não leem gêneros, mas textos organizados
em gêneros. Então, além de se depararem com a complexidade
dos gêneros, que envolvem capacidades de
linguagem mais amplas e comuns a todos os textos
organizados naquele gênero, enfrentam, também,
a complexidade dos textos.
Essa complexidade é definida por vários
aspectos, aos quais nos referiremos
a seguir.
a) Determinações do gênero e das
condições de produção do texto –
Conforme afirmamos acima, os
textos são organizados em gênerosque requerem capacidades
de linguagem mais ou menos complexas. Além disso, todo texto é produzido em função
de determinado contexto:
para determinado interlocutor,em determinado tempo, com determinadas
finalidades, para ser publicado em determinado portador e veículos, para circular em determinada esfera.
Assim, quanto maior familiaridade houver entre
produtor e leitor, mais próximo deste último estará o texto e, assim, a leitura será mais fácil, pois o produtor pode antecipar melhor
os saberes do leitor e, dessa forma,organizá-lo de maneira que o leitor o
leia com mais fluência. Um texto também
pode estar mais ou menos próximo temporalmente do momento em que
vive o leitor. Ler um texto do qual se conhece o contexto dos acontecimentos,
por exemplo, é mais fácil do que ler um texto produzido há séculos, quando os
costumes eram diferentes, valores diferentes predominavam. O mesmo acontece
quando se trata de textos produzidos em culturas, ainda que contemporâneas,
muito diferentes da cultura de origem do leitor.
b) Seleção lexical – Um texto pode ser mais ou menos complexo em função
da maior ou menor presença de um vocabulário do senso comum, da presença
de termos técnicos, de uma linguagem distante geograficamente ou no tempo, de
uma linguagem relacionada a conhecimentos científicos específicos. Ler um artigo
produzido para uma revista de medicina, sobre transplante de córnea, por exemplo,
certamente será tarefa mais difícil do que ler um artigo de divulgação científica,
publicado em revistas voltadas para esse fim.
c) Organização sintática dos enunciados – Os textos serão mais ou menos difíceis
de ler em função, também, do tamanho das frases e dos períodos que o compõem;
da ordem dos elementos que constituem as frases e os períodos (se houver
muitas inversões, deslocamentos, a leitura torna-se menos fluente do ponto de
vista semântico); da relação que é estabelecida entre as frases (se de subordinação
ou coordenação, por exemplo).
Tomemos os seguintes enunciados1:
“Muitos riachos, rios e cachoeiras encontram-se escondidos nas
terras planas do planalto central, pela sua geografia. Muitas dessas
águas brotam das nascentes de brejos ou despencam de paredões
de pedra provocando – inclusive por causa da presença de muitos
canyons no cerrado – a existência de cachoeiras de mais de cem
metros de altura!”
“Essas terras planas do planalto central escondem muitos riachos,
rios e cachoeiras. Na verdade, o cerrado é o berço das águas.
Essas águas brotam das nascentes de brejos ou despencam de paredões
de pedra. Em várias partes do cerrado brasileiro existem
canyons com cachoeiras de mais de cem metros de altura!”
O primeiro enunciado foi adaptado de SALDANHA, P. Os cerrados. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000. O segundo foi retirado de um item da
Prova Brasil, que utilizou uma adaptação do primeiro texto.
Não é difícil analisar que a leitura do primeiro enunciado pode ser muito mais
difícil para um leitor, pois sua organização é muito mais complexa que a do segundo.
Inicia-se com uma inversão no enunciado; organiza-se em dois períodos, apenas;
no segundo período há uma oração intercalada (colocada entre travessões) e
o estabelecimento de uma relação de causalidade entre a presença de canyons e a
existência de cachoeiras, relação esta não explicitada no segundo texto.
No segundo enunciado, ao contrário, a ordem dos elementos da frase é direta,
não há a presença de orações intercaladas; os períodos são mais curtos.
d) Temática desenvolvida – O tema abordado em um texto pode ser mais adequado
à faixa etária do leitor, ao grupo cultural no qual este se insere. Da mesma
forma, o leitor pode ter maior ou menor familiaridade com o tema. O tratamento
que esse tema recebe no texto pode aproximar-se ou distanciar-se das possibilidades
de compreensão e dos interesses do leitor.
e) Referencialidade do texto – Um texto pode ser mais ou menos referenciado
na realidade cotidiana do leitor. Por exemplo, um diário pessoal de um adolescente
vai conter temáticas relacionadas à vivência desse adolescente, a maneira como
ele compreende essa realidade. Nesse sentido, para outro adolescente da mesma
cultura e mesmo grupo social, a leitura desse diário será mais fácil do que, por
exemplo, a leitura de um verbete enciclopédico ou de dicionário, que pressupõe
uma definição geral de dado objeto, podendo colocá-lo, por exemplo, em diversos
contextos, mais ou menos familiares a ele.
f) Explicitação de informações – Um texto será tão mais fácil de ler quanto
menor for a exigência para que se opere com pressuposições e subentendidos.
Quanto mais explícitas forem as informações contidas no texto, mais fácil será sua
compreensão.
g) Recursos figurativos – O uso de elementos conotativos, metafóricos, metonímicos,
entre outros, pode tornar o o texto mais complexo para o leitor, por pressupor
uma capacidade maior de realizar comparações, inferências, entre outras.
h) Extensão do texto – Quanto mais extenso for um texto, maior deverá ser
a capacidade de articulação entre as suas partes, de recuperação de informações
anteriores para compreensão de novas, de sumarização de informações para a
reconstrução dos sentidos, sequencialmente.
Evidentemente, esses aspectos não podem ser considerados de maneira isolada
na análise da complexidade de um texto. Um texto não é mais complexo só
porque é mais extenso, ou porque utiliza muitos recursos figurativos, mas na relação
que há entre todos esses aspectos.
Além disso, é preciso não esquecer do grau de experiência que o leitor pode
ter tido com textos com tais ou quais características, o que o tornará mais ou menos
competente para lê-lo.
Assim, tomemos como exemplo o texto apresentado a seguir.
Trata-se de um texto, organizado no gênero bula de remédio, cuja finalidade
é orientar o consumidor de determinada medicação a respeito de suas características:
composição, para que enfermidade é indicada, que efeitos colaterais pode
provocar, em que doses pode ser ingerido, como deve ser conservado, etc. Costuma
circular nas caixas de remédio e sua linguagem costuma ser técnica, o que
pressupõe um leitor que tenha conhecimentos médicos ou farmacêuticos, como
médicos, farmacêuticos e químicos. Por isso mesmo, sua leitura pelos usuários
limita-se, muitas vezes, a algumas seções do texto, como, por exemplo, posologia,
indicações e contraindicações.
Embora a organização das frases seja na ordem direta, haja muitas enumerações
e a extensão dos períodos seja pequena, o léxico é eivado de expressões mais
técnicas como os nomes dos elementos que compõem o remédio, o nome da
doença (anemia) e o título de algumas de suas seções (como Posologia). Sendo
assim, a complexidade desse texto mais se define pelas características lexicais e do
seu contexto de produção (em especial, leitor a que se destina, finalidade e lugar
de circulação), do que pelas demais características.
A leitura desse texto será tanto mais complexa para o sujeito quanto menos
familiaridade ele tiver com o gênero (compreendendo suas características: lugar de
circulação, finalidades, etc.) e com a linguagem utilizada no texto.
Dessa forma, ainda que um dos itens elaborados para este texto possa ser
como a exemplificada abaixo,
No texto, a palavra COMPOSIÇÃO indica
(A) as situações contraindicadas do remédio.
(B) as vitaminas que fazem falta ao homem.
(C) os elementos que formam o remédio.
(D) os produtos que causam anemias.
Isso não significa que ela seja menos complexa, porque implica a compreensão
do sentido da palavra composição. Se não houver conhecimento do gênero, e
do sentido específico dessa palavra neste gênero, o item terá uma complexidade
maior para o leitor.
Da mesma maneira, se a pergunta fosse “Qual a posologia dessa medicação
para crianças?”, embora a questão implique apenas localizar informações explícitas
no texto, a resposta requereria que o sentido da palavra posologia fosse conhecido
pelo leitor, ou que ele inferisse o sentido da palavra a partir da leitura do texto.
Aqui, retomamos algo referido acima: as habilidades de leitura, embora possam
ser mais ou menos complexas, dados os procedimentos que podem requerer
do leitor, não podem ser consideradas à revelia do material textual, fora da relação
com o mesmo. Isso justifica, por exemplo, a presença de questões que requeiram
do leitor a mobilização de uma habilidade de leitura em diferentes níveis, pois tanto
os gêneros podem ser diferentes – dificultando a tarefa do leitor – quanto podem
ser os mesmos, mas os textos mais complexos, definindo uma competência leitora
superior.
Além disso, há que se considerar, ainda, que um instrumento de avaliação
de leitura como o do SAEB e da Prova Brasil requer dos alunos uma tarefa individualmente
realizada de leitura do texto, a leitura do item proposto e a leitura e
seleção de uma das opções de resposta. Isso significa dizer que, além dos aspectos
indicados acima, há que se levar em conta que a tarefa de leitura e interpretação
envolve, também, a leitura e a interpretação do enunciado e das opções de resposta.
Nesse processo também são mobilizadas habilidades pressupondo, por exemplo,
até mesmo a realização de inferências relativas aos itens lexicais apresentados nas
opções de resposta.
Passemos, então, à caracterização dos níveis de competência.
*******************mariamaura******************
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