domingo, 15 de novembro de 2009

Lev Semyonovich Vygotsky




Lev Semyonovich Vygotsky (1896-1934)

Vygotsky foi professor e pesquisador, contemporâneo de Piaget, nasceu em Orsha,
pequena cidade da Bielorrusia em 17 de novembro de 1896. Viveu na Rússia e
morreu de tuberculose aos 37 anos.
Estudou Direito, Filosofia e História. Durante seus estudos, adquiriu uma excelente
formação nas ciências humanas (línguas, literatura, filosofia e história).
A poesia, o teatro, a língua, os problemas da história e da filosofia interessaram-no
muito, antes do interesse pela Psicologia. O 1º livro que mostrou tal tendência foi
"Psicologia da Arte" (1925).
Terminados os estudos universitários, Vygotsky se dedicou a atividades intelectuais
variadas. Ensinou psicologia e prosseguiu seus estudos de teoria literária e psicologia
da arte. Em Moscou, a partir de 1924, começa a colaborar com o Instituto de
Psicologia.
Durante os anos de 1924 a 1934, rodeado por um grupo de colaboradores, cria sua
teoria histórico-cultural dos fenômenos psicológicos. Ignorado durante um bom
tempo, seus escritos somente foram redescobertas recentemente: uma antologia de
textos em seis volumes (1982-1984).
Vygotsky escreveu aproximadamente 200 textos, dos quais uma parte se perdeu. A
principal fonte continua sendo a obra publicada em russo entre 1982 e 1984. Esta
antologia se intitula "Obras completas", porém não abrange todos os textos que
puderam ser conservados.
Existirá sempre uma dificuldade: como criou um sistema teórico original, elaborou
também uma terminologia única. Eis o motivo pelo qual toda tradução corre o risco
de deformar suas idéias.
Teoria de Vygotsky
Vygotsky foi o principal psicólogo da antiga União Soviética. Sua curta existência e a
qualidade de sua obra permitiu que ele fosse comparado ao compositor Mozart.
Apesar da influência marcante de seus ideais pedagógicos, seus textos só foram
conhecidos no Ocidente graças ao interesse do psicólogo americano Bruner e pela
divulgação de seu discípulo Alexander Luria em congressos internacionais, a partir de
1962.
Foi o primeiro a chamar atenção à importância do envolvimento ambiental no
desenvolvimento da criança e no processo de formação da mente. Sua metodologia
não abria mão da relação teoria - prática.
Para a Psicologia Cognitiva, sua obra é relevante por ir além da simplificação
behaviorista, bem como por complementar as etapas do desenvolvimento intelectual,
entendidas até então somente pela via genética - Piaget.
A participação do aluno no processo de aprendizagem aponta para importância de
inserção social do indivíduo em suas diversas fases de crescimento, mostrando que a
mente depende do contato estreito com a comunidade para sua efetiva maturação.
1) A Formação Social da Mente
O entendimento da relação entre aprendizado e desenvolvimento ajuda à aplicação
correta das teorias educacionais. Para apresentar suas idéias, resolveu primeiro
analisar outras teorias que também trabalhavam sobre o desenvolvimento mental.
De todas, a que mais se destaca é a teoria de Piaget, nas quais o desenvolvimento é
concebido independente da aprendizagem. Segundo essa perspectiva, o domínio do
pensamento formal e lógico ocorreria por si mesmo, sem a interferência do ensino.
Depois de analisar esta e outras teorias, concluiu que não satisfaziam a compreensão
da relação entre aprendizado e desenvolvimento. A seu ver a solução deveria ser
encarada sob dois aspectos: geral e particular.
1°) O aprendizado não começa na escola, vem desde o nascimento.
2°) A partir daí, aprendizado e desenvolvimento encontram-se interligados.
2) Desenvolvimento Proximal
O desenvolvimento, a partir da educação formal, passa a se desenrolar em dois
níveis: real e potencial.
O real: é aquele em que a criança consegue resolver por si mesma os problemas que
lhe são propostos. Retrata o amadurecimento consolidado.
O potencial: a criança só são capaz de alcançar uma resposta com a ajuda do outro.

Apontam para o desenvolvimento mental que pode ser adquirido.
ZDP: Entre esses dois patamares, há uma zona de desenvolvimento proximal que
indica até onde o aprendiz pode chegar na sua etapa atual de crescimento. A ZDP
corresponde às funções que estão em maturação.
Vygotsky e a Educação
Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento como resultado de um
processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem. Sua
questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação sujeito - meio.
Mediação: enquanto sujeito do conhecimento, o homem não tem acesso direto aos
objetos, mas acesso mediado. Enfatiza a construção do conhecimento como uma
interação mediada, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma
mediação feita por outros sujeitos.
A linguagem: sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo
na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização
social, a mediação entre o sujeito e conhecimento. É por meio dela que as funções
mentais superiores (memória, pensamento) são socialmente formadas e
culturalmente transmitidas.
A cultura: fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos que permitem construir a
interpretação do mundo real.
O processo de internalização é fundamental ao desenvolvimento psicológico. Envolve
uma atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna,
é interpessoal e se torna intrapessoal.
Função mental: termo usado para referir-se aos processos de pensamento, memória,
percepção e atenção. O pensamento tem origem na motivação, interesse,
necessidade, afeto e emoção.
A escola: lugar de intervenção pedagógica intencional. O professor tem o papel de
interferir no processo, diferentemente de situações informais nas quais a criança
aprende por imersão no ambiente cultural. É seu papel provocar avanços nos alunos,
via zona de desenvolvimento proximal.
Ao observar a zona proximal, o educador pode orientar o aprendizado no sentido de
adiantar o desenvolvimento potencial do aluno, tornando-o real. A internalização das
atividades cognitivas leva ao aprendizado, que gera o desenvolvimento. O
desenvolvimento realiza-se através do aprendizado.
Comentário de Vygotsky sobre a Teoria Epistemológica de Piaget
Vygotsky teve contato com a obra de Piaget e, embora teça elogios em muitos
aspectos também a critica, por considerar que Piaget não deu a devida importância
ao social. Ambos atribuem grande importância ao organismo ativo, mas destaca o
papel do contexto histórico e cultural nos processos de desenvolvimento e
aprendizagem, sendo chamado de sócio-interacionista, e não apenas de
interacionista como Piaget.
Piaget coloca ênfase nos aspectos estruturais e nas leis de caráter universal (de
origem biológica) do desenvolvimento, enquanto Vygotsky destaca as contribuições
da cultura, da interação social e da dimensão histórica do desenvolvimento.
Comentário de Piaget sobre a Teoria Sócio-Histórica de Vygotsky
Quando Piaget descobre o trabalho de Vygotsky o mesmo já tinha morrido.
Considerou que o trabalho de Vygotsky continha pontos de seu interesse imediato.
"Meu amigo Luria manteve-me ao par da posição simultaneamente simpática e crítica
de Vygotsky a meu respeito, mas nunca pude ler seus escritos ou encontrá-lo
pessoalmente e, lendo seu livro hoje, lamento profundamente, pois poderíamos ter
chegado a um entendimento em numerosos pontos".
Quando o livro de Vygotsky apareceu (1934), discutia alguns trabalhos de Piaget.
Este, tentou ver se as críticas de Vygotsky se justificam ou não, à luz de seus
trabalhos posteriores. "A resposta é sim e não; em alguns pontos vejo-me hoje mais
de acordo com Vygotsky do que teria estado em 1934; enquanto que em outros
pontos acredito ter agora melhores argumentos para responder-lhe".
O problema central situa-se a nível do "nascimento da inteligência": para Vygotsky
esta origina-se socialmente, enquanto Piaget a situa num sentido mais biológico.

* PIAGET, Jean. Comentário sobre as observações críticas de Vygotsky concernentes
a duas obras: "A linguagem e o pensamento na criança" e "O raciocínio da criança".



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