terça-feira, 24 de março de 2009

Música e Poesia






Música & Poesia
O Pulso (Titãs)


O pulso ainda pulsa


O pulso ainda pulsa
Peste bubônica, câncer, pneumonia

Raiva, rubéola, tuberculose, anemia

Rancor, cisticircose, caxumba, difteria

Encefalite, faringite, gripe, leucemia

O pulso ainda pulsa (pulsa)

O pulso ainda pulsa (pulsa)

Hepatite, escarlatina, estupidez, paralisia

Toxoplasmose, sarampo, esquizofrenia

Úlcera, trombose, coqueluche, hipocondria

Sífilis, ciúmes, asma, cleptomania

E o corpo ainda é pouco

E o corpo ainda é pouco

Reumatismo, raquitismo, cistite, disritinia

Hérnia, pediculose, tétano, hipocrisia

Brucelose, febre tifóide, arteriosclerose, miopia

Catapora, culpa, cárie, câimba, lepra, afasia

O pulso ainda pulsaO corpo ainda é pouco
Ainda pulsa







Livro da Terra e dos Homens - 6 (Carlos Nejar)


Os homens eram sombrios,esfinges de solidão.

Os homens eram sombrios,quiseram tecer de sonhos

a água verde dos rios.Os homens eram amargos,quiseram compor o cisne

nas águas verdes dos lagos.

Os homens eram ardentescomo tochas de amaranto;sobre o rosto do poente

deixaram rosas de pranto.Os homens eram calados,torres de vazio.

Eram terríveis, terríveis

contra o céu de esquecimento;lançavam gumes de fogo

e adormeciam no vento.Os homens eram de vento(de um vento predestinado);braços de ferro
no tempo,entre o presente e o passado.

Os homens eram profundos

na superfície das cousas

e ali ficavam no mundodos rosa lábios e rosas.Os homens eram ferozes como estrelas de
ambição;mas no tempo-primavera,se primavera chegasse,eram brandos como espuma,eram
virgens como espada;eram suaves, suaves como aves de abandono.Os homens eram de
estrela,soprando sobre o canal;não era estrela de noite,mas estrela de metal.

Os homens eram de estrelae não podiam sustê-la.

Os homens eram de treva,fizeram-se escravos dela.Os homens eram remotos

no grande túnel de pedra.Nem alga, nem alfazema,nem junco, nem girassol,floração ali não
medra,longe da terra do sol.Floração ali não medra;tudo o que nasce é de pedra.O homem
nasceu do ventomas sepultou-se na pedra.O tempo nasceu do homem

mas o homem não é pedra.O tempo formou-se pedra

na eternidade de pedra.Um sol compreendeu o homem;era fogoso e de pedra.

Menino não como os outros,menino feito de pedra.Braços, só braços e mãos na madrugada de
pedra.Os homem donde vieram,se o seu destino é de pedra?Que procuravam os homens na
eternidade de pedra?Eram hálitos de aurora,luz florescendo caverna?Eram só pedra.Talvez
fonte, vento vento,folhagem sobre montanha,cintilações, pensamento?Eram só pedra.Talvez
crianças relâmpagos,Paredes de som, cantigas?

Eram só pedra.Rostos ocultos no sono,barcos de ânsia, velame?

Eram só pedra.Talvez carícia, sossego,desejo de despertar?Eram só pedra de pedra.Os deuses
eram de pedra,os homens eram de pedra

na eternidade da pedra.Pedra de aurora mas pedra,os homens eram pedras.

Lábios de pedra mas pedra

os homens eram pedras.Ventre de pedra mas pedra,os homens eram pedras.Noite de pedra mas
pedra,os homens eram pedras,os homens eram pedras,os homens eram as pedras.Eram as
pedras, as pedras,eram as pedras.


(de Livro de Silbion, 1963 - in Dois Poetas Novos do Brasil, Moraes editores, 1972 – Círculo de Poesia)


@marimaura@

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