Drauzio Varella
Esse menino precisa apanhar sol, recomendava minha avó diante da criança pálida. Na época, a exposição ao sol nas montanhas era o único tratamento para a tuberculose.
Em 1822, um médico polonês observou que o raquitismo era mais comum nas crianças que haviam migrado para as cidades. Dois anos depois, os alemães sugeriram que a doença fosse tratada com o insuportável óleo de fígado de bacalhau.
No fim do século 20, os dermatologistas concluíram que a exposição ao sol deveria ser evitada por causa do câncer de pele. Entramos na era dos filtros protetores, sem os quais alguns não põem o pé fora de casa.
O conselho dado por minha avó encontra-se hoje nas páginas das revistas médicas mais influentes: sem sol, a pele não produz vitamina D. Sem ela, surgem enfermidades que vão do raquitismo à osteoporose; do câncer às infecções, ao diabetes e às complicações cardiovasculares.
Seres humanos conseguem obter vitamina D a partir da exposição à luz solar, da dieta e de suplementos vitamínicos. Ao incidir sobre a pele, a banda B da radiação ultravioleta converte um precursor em pré-vitamina D, que é rapidamente transformada em vitamina D. Como qualquer excesso da pré-vitamina é destruído pela luz, o excesso de sol não leva à hipervitaminose.
As fontes alimentares são pobres. A maior concentração é no óleo de fígado de bacalhau: 1.360 unidades em cada colher de sopa. Em quantidades menores, a vitamina pode ser obtida pela ingestão de peixes oleosos (salmão, atum, sardinha), cogumelos, gema de ovo, sucos e cereais enriquecidos artificialmente.
As descobertas de que a maioria das células do organismo possui receptores para vitamina D (e de que muitas são dotadas de enzimas capazes de convertê-la em sua forma ativa) permitiram elucidar seu papel na prevenção de doenças crônicas.
Vivemos em plena epidemia de hipovitaminose D, deficiência que atinge 1 bilhão de pessoas, especialmente nos países com dias frios e escuros durante meses consecutivos. Inquéritos epidemiológicos demonstram que, nos EUA, acham-se nessa condição de 40% a 100% das pessoas com mais de 70 anos; 52% das crianças negras e 32% dos médicos de um hospital de Boston.
Habitantes das regiões equatoriais expostos ao sol com roupas leves, ao contrário, apresentam altos níveis da vitamina. Mas nos países árabes, na Austrália e na Índia, em que a população vive com o corpo coberto apesar do calor, de 30% a 50% dos adultos são deficientes.
Osteoporose e fraturas ósseas, fatos dramáticos na vida dos mais velhos, guardam relação íntima com a hipovitaminose D. Assim como os ossos, os músculos possuem receptores para vitamina D, da qual requerem quantidades mínimas para adquirir potência máxima.
Células de cérebro, fígado, próstata, mama, cólon e sistema imunológico também apresentam tais receptores e se ressentem da falta dela.
Direta ou indiretamente, a vitamina D controla mais de 200 genes, responsáveis pela integridade da resposta imunológica. A deficiência desse micronutriente aumenta o risco de tuberculose. Os negros, cuja pele tem mais dificuldade para sintetizá-lo, são mais suscetíveis à doença e a contraí-la em suas formas mais graves.
Viver em latitudes mais altas aumenta a probabilidade de câncer de cólon, próstata, ovário e outros. Um estudo conduzido entre 32 mil mulheres mostrou que, quanto mais baixos os níveis de vitamina D, mais alto o risco de câncer de intestino. Outro estudo demonstrou que o câncer de próstata surge três a cinco anos mais tarde em homens que trabalham ao ar livre.
Nessas regiões, são maiores os riscos de se manifestar o diabetes do tipo 1, doenças inflamatórias do intestino, esclerose múltipla, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, esquizofrenia e depressão.
O que fazer? Voltaremos a queimar o corpo sob o sol?
Não podemos esquecer que as radiações solares provocam manchas e apressam o envelhecimento cutâneo, além de constituir a principal causa do câncer de pele.
Quanto sol precisamos tomar?
Depende da cor da pele: quanto mais escura, mais resistente a ele, e menos eficiente na produção de vitamina D.
Exposição dos braços e pernas ao sol num período de cinco a trinta minutos (segundo a pigmentação cutânea), duas vezes por semana, produz níveis adequados de vitamina D. Quem foge do sol deve fazer reposição com suplementos que ofereçam 800 unidades por dia.
Foi me enviada através de e-mail
Mariamaura
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